Em Belo Horizonte, segundo o Censo Pop Rua da Faculdade de Medicina da UFMG, em 2022 a população em situação de rua atingiu 5.344 pessoas, representando um aumento de 192% em relação a oito anos atrás. Esse contingente é majoritariamente composto por homens, totalizando 84%, com média de idade de 42 anos. Por outro lado, as mulheres constituem 16% desse grupo, com idade média de 38 anos. A predominância de pardos ou pretos (82,6%) se destaca para a atenção específica nas políticas públicas.
Além disso, o tempo de permanência nas ruas tem se tornado uma preocupação crescente em Belo Horizonte, passando de uma estimativa de 7 anos em 2013 para 11 anos em 2022. O Censo aponta que problemas familiares são a principal razão para as pessoas irem para as ruas (36,7%), seguido pelo uso de álcool e drogas (21,9%) e desemprego (18%).
Os resultados do censo corroboram com a literatura, evidenciando que a situação de rua é resultado de uma complexa combinação de fatores pessoais, sociais, psicológicos e até mesmo espirituais. Além das dificuldades financeiras, problemas de saúde mental não tratados, vícios em substâncias lícitas e/ou ilícitas, violência doméstica e falta de suporte familiar são aspectos a serem considerados nas políticas para pessoas em situação de rua.
Abordar a falta de moradia de forma holística é crucial, integrando políticas sociais, apoio em saúde mental, programas de empregabilidade, habitação acessível e estratégias de reintegração social. A cooperação entre governos, organizações sem fins lucrativos, comunidades e sociedade em geral é fundamental para fornecer soluções efetivas e compassivas.
A complexidade da falta de moradia e vulnerabilidade social dessa população não só impacta diretamente em questões socioeconômicas, mas também indiretamente no comércio local. A presença de moradores de rua pode afetar a percepção dos consumidores sobre segurança e limpeza, reduzindo o tráfego de transeuntes e prejudicando negócios que dependem de um fluxo constante de clientes.
A desordem resultante do acúmulo de lixo, práticas fisiológicas em vias públicas e, ocasionalmente, associações com aumento de incidentes como furtos, vandalismo e perturbação da ordem pública contribuem para um ambiente pouco atrativo para clientes. Diante desse cenário, empresas e comerciantes sentem-se pressionados a participar de ações sociais, aumentando os custos operacionais.
Apesar dos desafios, é crucial assegurar os direitos humanos e valores das pessoas em situação de rua. A solução requer uma abordagem coordenada que vá além das ações isoladas do governo, sociedade ou comércio local. Essa população, que enfrenta situações extremas de fragilidade, demanda políticas inclusivas, oferta de abrigos temporários, suporte em saúde mental e empregabilidade, além do engajamento da sociedade civil. É imperativo combater o estigma, promover a segurança e garantir os direitos dessa população, buscando uma abordagem humana e integral para sua reintegração social.
* Escrito em cooperação com Alexandre Dolabella França, assessor de Relações Institucionais da Fecomércio-MG