Irlan MeloAdvogado, teólogo, professor universitário e vereador de BH eleito para seu segundo mandato como o 8° vereador mais votado de BH

Holocausto brasileiro

Publicado em 07/01/2022 às 21:39.Atualizado em 10/01/2022 às 02:02.

Poético, horrendo, argumentativo e esplêndido. Essas são as palavras que definem essa obra de Daniela Arbex.

O livro é o registro histórico dos pacientes que eram encaminhados para o Hospital Colônia, na cidade de Barbacena, na teoria para receber tratamento psiquiátrico adequado. Porém, na prática era diferente. Eram encaminhados para o Colônia negros, homossexuais, pessoas tímidas, mulheres abusadas, pessoas com transtorno mentais e outros que eram considerados estorvos para pessoas com poder político e econômico. Muitos não precisavam de tratamento psiquiátrico, eram perfeitamente normais, mas foram forçados a acreditar que eram loucos, até se tornarem loucos pelo descaso do Estado.

O livro traz uma questão muito perspicaz: se pessoas normais foram capazes de participar ativamente ou como meros espectadores dos crimes cometidos ali, e os "loucos" não fizeram mal algum, quem são os verdadeiros loucos?

Holocausto. Não existe tamanha diferença entre os campos de concentração do Terceiro Reich e os campos do Colônia. Pessoas foram tratadas como ratos de laboratório, vítimas do Estado, que fez uma limpeza étnica no "hospital".

Essas vítimas tiveram sua liberdade cerceada, sofreram torturas psicológicas e físicas, pessoas que entraram sãs, mas ficaram com transtornos mentais. O rastro deixado: 60 mil corpos, os cadáveres tinham mais valor do que os pacientes vivos.

Enfim, uma marca da vergonha, mas que temos que carregar, para jamais nos esquecermos dos crimes cometidos no Colônia, crime orquestrado pelo Estado, crime que todos nós toleramos. Além disso, o livro faz me faz pensar em como o Estado tem conduzido a questão da saúde pública voltadas para pessoas que sofrem com alguma doença mental.

Esses relatos se assemelham muito à forma como as pessoas com deficiência eram tratadas antigamente. Em Atenas, na Grécia Antiga, por exemplo, os recém-nascidos com alguma deficiência eram colocados em uma vasilha de argila e abandonados. Grandes pensadores, como Platão, em seu livro “A República”, e Aristóteles, no livro “A Política”, trataram do planejamento das cidades gregas indicando que as pessoas nascidas com problemas deveriam ser eliminadas. A eliminação era por exposição, abandono ou atiradas de uma cadeia de montanhas na Grécia.

Por incrível que pareça, palavras como abandono, eliminação e rejeição são ainda bem atuais no tocante às pessoas com deficiência. Por isso, desde meu primeiro dia de mandato decidi ser porta-voz, representante atuante dos PCDs na Câmara Municipal. Meu objetivo é contribuir para que Belo Horizonte seja uma cidade cada vez mais universal!

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