José Roberto LimaJosé Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, mestre em Educação, professor da Faculdade Promove e autor de “Como Passei em 16 Concursos”

A vida é apenas competição?

Publicado em 28/06/2023 às 06:00.

A partir da segunda metade do século XIX, propagou-se na Europa o chamado “darwinismo social”. Foi uma tentativa de justificar as riquezas de poucos e a miséria de muitos. Então, políticos de várias tendências, desde os conservadores até os chamados liberais, passaram a atribuir à Charles Darwin frases que ele nunca disse.

É o caso, por exemplo, da afirmativa de que o homem descende do macaco. Darwin não disse isso em seu livro “A origem das espécies”. Existe também o contrário, isto é, frases que ele realmente disse noutro livro, em que demonstra a importância da emoção e do cuidado entre os indivíduos para a sobrevivência de um grupo. Mas, nesse caso, as ideias dele foram deixadas de lado, porque não atendiam aos interesses ideológicos.

É nesse contexto que surge a ideia da “lei do mais forte”, na tentativa de transportar equivocadamente as ideias darwinistas para a realidade social. E assim chegamos aos dias atuais. Vivemos a loucura da competição a qualquer custo e por quaisquer motivos.

Nesse contexto, pessoas que, olhando-se no espelho se veem como fracas, têm, em geral, uma destas duas reações: ou se conformam ou entram nessa luta insana de competição. Isso tem produzido uma sociedade doente, na falsa crença de que a vida se resume a uma disputa sem trégua.

Isso fez uma vítima fatal, conforme amplamente noticiado nas redes sociais. Ao participar de uma maratona, um jovem trabalhador, carregando todos os seus sonhos, não pretendia ficar para trás em relação aos colegas da mesma empresa. Correu até a exaustão e veio a falecer.

E cabe perguntarmos: a vida é apenas isso? E os concursos, assim como as provas em geral? Elas devem se limitar a essa eterna disputa? Não mesmo.

As pessoas realmente bem-sucedidas, como também as mais felizes, são as capazes de compreender que a competição deve andar lado a lado com a colaboração. Afinal, somos essencialmente seres sociais.

Conceitos aparentemente opostos, tais como trabalho e descanso, disputa e colaboração, estudo e lazer, devem ser entendidos como complementares. Um trabalhador, cujas horas de descanso são respeitadas, produz mais (em quantidade e, principalmente, em criatividade). Um vencedor, seja qual for a disputa, torna-se um verdadeiro vitorioso quando é capaz de colaborar com o adversário.

E os estudos? Ah, os estudos rendem muito mais quando somos capazes de fechar os livros de vez em quando para cultivarmos os melhores e mais afetuosos relacionamentos.

Então, bons estudos para todos.       

*José Roberto Lima é advogado, professor da Faculdade Promove, autor de “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.

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