Treze milhões de pessoas estão se preparando para os concursos públicos que serão realizados em breve. Em comparação com as estatísticas militares, este número somente é superado pelo de soldados na Segunda Guerra Mundial. Portanto, quem entra num concurso entra numa guerra.
Já o futebol, apesar das muitas analogias que se pode fazer com os concursos, é outro tipo de disputa. É um esporte e, como tal, tem sido tratado ultimamente pelos dirigentes, atletas e torcedores mineiros. Então, estamos de parabéns.
A decisão inédita da Copa do Brasil entre Atlético e Cruzeiro transcorreu em clima de paz. Como nota de pesar, houve a morte de um torcedor que “surfava” no alto de um ônibus. Também houve, como sempre, a ação dos intolerantes com as predileções futebolísticas alheias. Mas eles são e continuarão sendo minoria. Fora isso, o balanço da Segurança Pública foi positivo. Aliás, a Polícia Militar e Polícia Civil também merecem os parabéns.
Essa mentalidade da não-violência, típica do verdadeiro torcedor, deve ser a mesma do concurseiro. O colega que toma assento a seu lado durante as aulas concorre à mesma vaga que você almeja. E pode ser que ele torça pelo time que lhe é adversário. Mas é inútil tratá-lo como inimigo a ser eliminado. Ao contrário, o ato de compartilhar conhecimento com os colegas potencializa o aprendizado de todos. É por isso que nós, professores, temos o costume de propor atividades em grupo. Isso é eficiente desde a pré-escola até o doutorado.
Mas o colega é meu concorrente – poderia alguém argumentar. Sim, mas o ato de compartilhar conhecimento com ele traz benefícios para todos. E, quanto à condição de concorrente, ele está no final de uma imensa fila. Antes dele, há muitas outras pessoas que podem estar empenhadas para o seu fracasso, embora nada ganhem com isso, exceto uma alegria fugaz.
Esteja atento a esse perigo, que vai muito além da intolerância futebolística. Quando você se prepara seriamente para um concurso, descobrirá que entrou numa guerra na qual os inimigos, usando a mais terrível tática de guerrilha, podem se esconder na figura aparentemente amistosa de um vizinho, de colega de trabalho e até mesmo de um parente.
E tome cuidado: eles podem torcer pelo mesmo time da sua predileção. Por outro lado, o torcedor do time rival pode ser um verdadeiro amigo, com o qual vale a pena compartilhar conhecimento. Então, estabeleça suas relações sem animosidades futebolísticas, fazendo no seu universo pessoal aquilo que se pôde observar na multidão de torcedores atleticanos e cruzeirenses, ressalvadas as exceções minoritárias de sempre. Traga para a sua vida cotidiana a certeza de que concurso é uma guerra; futebol, não.