No último domingo, escrevi sobre a jornalista que me perguntou: “O Senhor fala de sucesso em 15 concursos. Mas qual foi seu fracasso?” Após elogiar pela inteligência da pergunta, falei do sonho, ainda não realizado, de alcançar boa fluência em Inglês.
Falar de sucessos é fácil. Até um fracassado fala de sucessos. Basta construiu uma “realidade” para si mesmo, acreditando nas próprias mentiras de triunfo. Afinal, todos nós conhecemos alguém que vive de “status”, comprando o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para impressionar o vizinho detestado.
Difícil é falar de fracassos. E eis que a jornalista, após ouvir sobre os meus, fez outra pergunta: “E do que você se arrepende?”.
- Acho que já sei a resposta – prosseguiu. Você se arrepende de não ter estudado Inglês, certo?
- Errado. A questão – acredite – não foi uma desculpa para mim mesmo. A questão foi de tempo. Eu havia assumido um cargo que aumentou em cinco vezes o meu salário. À noite, eu prestava serviço de segurança numa escola preparatória, o que melhorava ainda mais a minha renda.
Eu estava decidido a me matricular numa escola de idiomas. Cheguei a comparecer à livraria indicada para comprar o material didático. Ali estando, experimentei aquela sensação de que o dinheiro compra tudo. Entrei em devaneio sobre o conhecimento que seria conquistado, com a falsa impressão de que bastaria comprar os livros.
Porém, a lucidez me acordou. Fiz uma análise de tempo: não seria possível fazer as revisões regularmente. E eu nunca fui fã daquela ideia de que não fazemos nada entre meia-noite e seis da manhã. Parafraseando Vinicius de Moraes, “os madrugadeiros que me desculpem, mas o sono é fundamental”.
Poucos meses após, passei no vestibular de Direito da UFMG. E, tanto era adequada minha análise de tempo que, para acompanhar as aulas na faculdade, tive de renunciar a um dos empregos. O sonho de alcançar boa fluência em Inglês foi adiado, mas não foi esquecido. Ainda escreverei artigos em Inglês. Não duvide.
- Não duvido – asseverou a jornalista. Mas até agora você não disse de que se arrepende.
- Ah... Desviei-me da pergunta sem perceber. Ta vendo com é difícil falar sobre fracassos e arrependimentos?! Eu me arrependo de várias coisas. Exemplo: eu gostaria de ter frequentado mais as academias de malhação durante minha juventude. Isso seria importante para eu ter ainda mais saúde.
Mas do que mais me arrependo é o fato de ter fumado durante vários anos. O cigarro, que era anunciado antigamente com as ideias de vigor físico, charme e altas reflexões, só leva aos opostos destes atributos. Felizmente, larguei esse vício antes de perder a saude. Uma semana após parar de fumar, ganhei mais disposição e mais rendimento nos estudos. Foi assim que teve início a minha trajetória de aprovação em 15 concursos.