Os milhões de jovens que se preparam para concursos e vestibulares têm, agora, fortes concorrentes: os idosos. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de inscritos no Enem com mais de 60 anos triplicou desde 2009. Em relação ao ano passado, o crescimento foi de 42%. Neste ano, mais de 15.000 idosos fizeram inscrição.
É um engano pensar que eles são apenas figurantes de pouca importância na disputa. Em muitos casos, são pessoas aposentadas que já têm diploma de ensino superior e pretendem uma segunda formação. Na juventude, foram o que foi possível ser. Agora, buscam a realização de um sonho.
Nos concursos não é diferente. Com as virtudes de serenidade e sabedoria que só a idade proporciona, eles não têm medo de fracassar. Isso já os coloca muitos passos à frente dos jovens, às vezes dominados pela frase “eu tenho que passar”, o que não ajuda em nada na hora da prova; ao contrário, produz um estado de tensão que conduz ao “branco de memória”. E eis o jovem, no “day after”, constatando que errou questões extremamente fácies.
Enquanto isso, os idosos substituem o “eu tenho que passar” por “eu tenho que fazer a prova”. E, para tanto, comparecem ao “campo de batalha” bem munidos: água, itens de alimentação, medicamentos e, claro, todo o material em ordem: caneta com a especificação exigida, lápis, borracha e tudo mais que for permitido. Enquanto isso, muitos jovens correm nas imediações do local da prova, em busca de uma caneta que atenda ao modelo exigido.
Assim, sem medo de enfrentar a concorrência, são muitos os idosos que participam dos concursos mais badalados. Com a experiência de vida, aliada ao preparo intelectual de muitas décadas, eles deixam muitos concurseiros jovens para trás. Para passar, eles não abrem mão das modernidades, sabendo explorá-las adequadamente. Fazem pesquisas na internet, frequentam escolas preparatórias, fazem revisões em casa.
Outra diferença muito importante em relação à maioria dos jovens: quase sempre, os idosos contam com o sorriso de apoio e de esperança dos familiares. Mas isso não vem dos pais, que já se foram, e sim dos filhos, dos sobrinhos e dos netos.
Em breve, eles podem contar com outro diferencial: a cota para idosos. Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 60/2009. O autor é Antônio Carlos Valadares, senador pelo Estado de Sergipe. A ideia é reservar 5% das vagas de concursos públicos para pessoas com 60 anos ou mais. A exceção seria apenas para casos específicos, como as carreiras militares.
Mesmo que o projeto não vire lei, esteja certo que os idos já se transformaram em fortes concorrentes. Então, dê-lhes o cuidado que merecem. Mas, quando o assunto for concurso... cuidado com eles.