Todo e qualquer idioma está sujeito a mudanças ao longo do tempo. Isso pode decorrer, por exemplo, de uma evolução tecnológica, científica ou simplesmente de novos usos de frases ou expressões. Por exemplo: a palavra “telefone” não existia até meados do século XIX.
“Planeta”, na antiga Grécia, significava “estrela errante”. De fato, não se podia naquela época prever os movimentos desses astros. Mas, a partir do Século XVI, cientistas como Galileu Galilei e Johannes Kepler demonstraram a trajetória dos planetas em torno do Sol. E claro: o sentido da palavra “planeta” mudou completamente.
Outra fonte de mudança nos idiomas é o estrangeirismo. Alguns são bem-vindos e outros, nem tanto. Nos últimos anos tem sido comum ouvirmos “em tempo real” em vez de “ao vivo” para designar uma cena que está ocorrendo no momento em que é transmitida. Isso é uma ótima influência da expressão inglesa “real time”.
Dizer “em tempo real” faz muito mais sentido que “ao vivo”. Afinal, algum estrangeiro que está aprendendo nosso modo de falar pode ser levado a pensar: “Se existe transmissão ao vivo, como é a transmissão ao morto”?
Mas o tal do “fururo do gerúndio”... ah, esse “não dá para engolir”. Tudo bem que, na língua inglesa, nós encarregamos vários verbos para indicar o futuro de presente. Para a frase “eu almoçarei amanhã”, você deve dizer “I am going to have lunch tomorrow”. Ufa! Temos que usar o verbo ser/ estar, o verbo ir e o verbo ter para um simples almoço.
Mesmo assim, devemos observar que, em alguns casos, o tal “futuro do gerúndio” faz sentido. É o caso de quando se quer dizer sobre uma ação permanente no futuro (eu estarei cuidando das crianças amanhã). Mas, quando se trata de uma ação instantânea ou de pouca duração, não faz sentido dizer “eu estarei almoçando amanhã”.
E eis que vários políticos, das mais diversas tendências ideológicas, cunharam uma expressão sem nenhum estrangeirismo, tirada do próprio Português. Refiro-me a “para além disso”, quando querem apresentar um fundamento a mais nos seus argumentos. Ora, bastaria dizer “além disso”, ou “ademais”, ou “além do mais”, etc. Mas a expressão faz sentido, especialmente quando se quer dar ênfase a um discurso.
Precisamos estar atentos a essas evoluções. É assim que podemos distinguir as que são bem-vindas e as que devem ser evitadas. Assim, quando você estiver diante de uma prova de redação, poderá elaborar um bom texto.
Desejo a todos bons estudos.
* José Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, professor das Faculdades Promove e mestre em Educação. Autor dos livros “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.