Como se chamam os ancoradouros para iates e pequenas embarcações? Acertou quem disse “marinas”. E foi numa dessas marinas que transcorreu uma inusitada ocorrência, que se transformou numa crônica no ambiente policial.
Contarei esse “causo” com licenciosidade literária. Assim, a redação que se segue está recheada de ficção. E, para não fugir à temática principal desta coluna, que é dedicada a técnicas de estudos, convém esclarecer, tal como digo a meus alunos, que as crônicas policiais, ainda que de mera ficção, ilustram temas importantes para o aprendizado. É por isso que já escrevi várias delas neste espaço.
Eis o “causo”:
Todos que transitavam por aquelas marinas, repletas de iates, ficaram boquiabertos ao verem a chegada daquela jovem, cuja beleza física em traje discreto inspirava sobriedade e confiança. Alguns minutos após, a cena mudou completamente e ela foi presa.
E queriam saber o que a jovem havia feito de errado. Entre sussurros, as notícias oficiais começaram a circular. E ficou claro que, debaixo do estilo sóbrio e acima de qualquer surpresa, havia uma criminosa.
Ela, tentando embarcar num iate com aparente calma, estava empreendendo fuga. Porque tinha acabado de sair despercebidamente de uma repartição pública, onde ofereceu uma propina de 5 mil reais a um funcionário para a prática de um ato ilegal.
Na investigação que se seguiu, veio à tona a contumácia. Ela já havia tentado “comprar” condutas de ação ou omissão em anos anteriores. Mas não aprendeu a lição.
Em vez disso, quando não tinha mais ninguém para “comprar”, ela vendeu uma conduta própria por 13 mil reais. E vendeu numa circunstância que poderia ser legítima. A pessoa que contratou o serviço estava disposta a pagar até 20 mil reais, desde que tudo fosse combinado às claras.
As aparências enganam, mesmo que encantem no início. Existem pessoas que parecem honestas e envernizadas por fora. Mas as baratas também parecem envernizadas.
E eis a pergunta: 13 mil reais compensaram? Claro que não. Além de ter gasto muito mais durante o processo criminal, a moralidade ficou maculada.
Histórias como essa, vividas por pessoas que poderiam trilhar o caminho da retidão, levam a um desânimo insuperável nos estudos. Porque a perda da confiança é difícil de se recuperar.
É claro que, do ponto de vista teórico, até os mais hediondos dos criminosos têm direito à reabilitação. Mas, na prática, costuma ocorrer de nem mesmo o criminoso acreditar na capacidade de se regenerar socialmente.
Então, desejo a todos o caminho da retidão, o que refletirá em bons estudos.
* José Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, mestre em Educação, professor da Faculdade Promove e autor de “Como Passei em 16 Concursos”. Escreve nesse espaço às quartas-feiras.