Minha infância não foi diferente da de qualquer criança de origem pobre. Mas, entre as agruras de uma família de oito filhos, tive dois privilégios: 1) os ensinamentos bíblicos de um Senhor que trabalhava na escola-horto onde morávamos; 2) as habilidades de marcenaria que me permitiram fazer carrinhos e outros brinquedos de madeira.
Lembro-me do Ford-29 do meu pai. Quando saímos para uma viagem, ele notou que o carro voltara da oficina com o sistema de direção invertido. Quando retornamos do passeio na cidade de Guidoval, eu fiz um carrinho de rolimã com a mesma característica. E vi o brilho nos olhos dele, decorrente deste diálogo:
- Roberto, por que você inverteu as varetas? É por isso que as rodas estão virando para o lado contrário.
- Mas eu quis fazer assim mesmo, para ficar igual ao carro do meu pai.
Foi nesse contexto que aprendi a ter prazer com os estudos e com as tarefas a serem cumpridas. E a marcenaria se transformou em uma das minhas paixões.
É por isso que a arquitetura da minha casa é especialmente pensada para as crianças. Elas já acordam brincando: descem da cama pelo escorregador que eu mesmo fiz... tomam banho no box com duas duchas que eu mesmo instalei... jogam na sinuca que eu mesmo montei... e, claro: brincam nos carrinhos que eu mesmo projetei.
E por que estou dizendo tudo isso? Por dois motivos. O primeiro deles: eu conheço a técnica para despertar nas crianças (e nos meus alunos) o gosto de aprender brincando. O outro motivo é duplo: na última segunda-feira foi o aniversário do meu afilhado, a quem envio meus parabéns; e, no próximo domingo, dia 19/3, será o meu aniversário.
E, olhando para trás, vejo que, nessa jornada de mais de meio século dedicada às habilidades de aprender e ensinar, o mais importante não foi meu triunfo de 16 aprovações em concursos, nem a autoria de livros sobre esse tema e sobre o tema do Magistério Jurídico.
O mais importante foram as amizades que fiz. Isso me tornou uma pessoa feliz. E é por isso que mantenho viva a capacidade de ensinar aos mais jovens a trilhar o caminho das aprovações.
Porque a primeira condição para se aprender bem e ensinar melhor ainda é ser feliz. Então, inverta os seus planos: em vez de passar num concurso para ser feliz... seja feliz e passe nos concursos que você almejar.
A todos, de modo especial aos que aniversariam neste mês, desejo bons estudos.
*José Roberto Lima é advogado, professor da Faculdade Promove, autor de “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras