José Roberto LimaJosé Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, mestre em Educação, professor da Faculdade Promove e autor de “Como Passei em 16 Concursos”

Zelão, o telefone

Publicado em 24/07/2018 às 20:11.Atualizado em 10/11/2021 às 01:34.


Nos idos de uma década longínqua do século passado, os telégrafo com código Morse era o padrão de comunicação das principais delegacias. Muitos funcionários sequer conheciam o telefone. A maioria sabia apenas era um aparelho que se colocava próximo à orelha. Daí surgiu a gíria “telefone” para designar um golpe nas orelhas.

O efeito é assustador, num misto de dor e tontura imediatas. Quer dizer: dizem que o efeito é esse. Dizem também que, naquele tempo, alguns policiais se valiam do “telefone” quando o réu “não se lembrava” dos crimes cometidos.

Eu nunca presenciei tal prática e sou defensor dos Direito Humanos. O que nenhum policial desconhecia era a gíria “telefone”, mesmo que nunca tivesse usado o aparelho propriamente dito. E foi assim que aquela delegacia recebeu uma linha telefônica, o que muito ajudava na substituição do antigo telégrafo.

O policial mais aplicado no cumprimento das ordens superiores tinha “cara” de poucos amigos. E, de tão zeloso no cumprimento das ordens, vamos aqui chamá-lo de Zelão (que Deus o tenha na eternidade).

E eis que Zelão estava no Gabinete do delegado-chefe, enquanto este conversava com um advogado recém-chegado naquela cidade interiorana. O fiel escudeiro permaneceu na sala fazendo a segurança do delegado.

O contexto da conversa coincidiu com o ilustre visitante falando da sua falta de memória em relação a diversas perguntas amistosas do delegado. E este se mostrou incomodado, mas não com o advogado, e sim com o telefone que não parava de tocar.

Para se livrar daquela campainha irritante, que atrapalhava a conversa, o delegado dirigiu a palavra ao subordinado e disse:

– Zelão, telefone.

E pra que o chefe foi dizer isso exatamente quando o advogado reiterava o uso da frase “eu não me lembro”. Zelão não teve dúvida e bateu fortemente as palmas das mãos nas orelhas do visitante, “pra ver se ele começava a se lembrar de alguma coisa”. 
 

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