Política e futebol podem parecer, à primeira vista, dois temas sem nada em comum. Mas, a verdade é que essas são duas pautas, muitas vezes, correlatas. Não apenas pela correlação com os setores de turismo, economia e infraestrutura urbana, mas também com os projetos socioeducativos de crianças e jovens e, sobretudo, na construção da identidade nacional de um país. Nós, brasileiros, sabemos bem disso. E em um evento de magnitude e repercussão global como a Copa do Mundo, vale trazer essa discussão à tona.
A escolha da sede desse megaevento tende a refletir, por exemplo, as configurações geopolíticas de um determinado período, incluindo arranjos e configurações de fóruns como o BRICS, o bloco econômico que reúne Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul. Os últimos grandes eventos esportivos podem ser também reflexo dessas articulações: a Copa do Mundo em 2010 na África do Sul, no Brasil em 2014 e na Rússia em 2018; as Olímpiadas de Verão em 2008 na China e em 2016 no Brasil - oportunidades em que os países tiveram de projetar sua imagem e serem vistos internacionalmente como importante global player capaz de sediar um evento de visibilidade mundial.
A Copa do Mundo, vivida como um momento em que o nosso patriotismo é reforçado e celebrado, tem, sim, dimensão política e muitas vezes contribui para despertar as multidões para além do esporte. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, um dos atletas mais importantes da nossa história, dedicou em 1969, em campo, a comemoração de seu milésimo gol em prol da educação. O alerta era para que a sociedade se preocupasse com a situação de pobreza e falta de perspectivas de crianças e jovens no país.
No mesmo ano, o Santos, clube brasileiro que também tinha Pelé como estrela, interrompeu dois conflitos, no Congo e na Nigéria, durante os campeonatos. Na Nigéria, os dirigentes conseguiram um cessar-fogo com separatistas para que a partida ocorresse. No Congo, o combate foi paralisado para permitir a passagem da delegação santista e a realização de dois jogos no país. Episódios em que a política foi tratada, de fato, dentro dos campos.
É inegável que a Copa do Mundo, um dos eventos mais vistos do planeta, seja o momento de maior glória do futebol. Em breve, após 64 partidas, saberemos o futuro do Brasil na competição. Não muito diferente do nosso desejo de sucesso também para o futuro do nosso país. Como diria o famoso locutor: “Haja coração!”.