Claudio OlivaClaudio Oliva é jornalista especializado em turismo e hotelaria, pós-graduado em Turismo pela Universidade de Barcelona, presidiu a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Editor da Qual Viagem, colaborador em diversos portais de turismo, é também diretor Executivo da Assimptur Assessoria de Imprensa.
Turismo

Aumento de fraudes em passagens aéreas prejudica empresas e clientes

Cláudio Lacerda Oliva*
Publicado em 30/11/2023 às 07:16.Atualizado em 30/11/2023 às 08:27.
Levantamento revelou aumento de 255,1% nas tentativas suspeitas de fraude digital no setor de viagens e lazer no Brasil em 2022, em comparação com o ano anterior (Nicole Geri via Unsplash)
Levantamento revelou aumento de 255,1% nas tentativas suspeitas de fraude digital no setor de viagens e lazer no Brasil em 2022, em comparação com o ano anterior (Nicole Geri via Unsplash)

Os perigos associados à aquisição de passagens e pacotes de viagem em meios online são frequentemente discutidos, destacando os possíveis prejuízos enfrentados pelos consumidores em casos de fraudes. No entanto, pouco se menciona sobre os riscos enfrentados pelas agências, companhias aéreas e hotéis, que, muitas vezes, acabam arcando com as consequências financeiras destes golpes.

Estas situações não são insignificantes, conforme indicado por análise da TransUnion, que revelou aumento de 255,1% nas tentativas suspeitas de fraude digital no setor de viagens e lazer no Brasil em 2022, em comparação com o ano anterior.

A natureza inerente das transações digitais na indústria do turismo as torna mais suscetíveis a fraudes quando comparadas a produtos físicos ou ao comércio eletrônico convencional. Isso se deve, em parte, ao fato de que muitas operações ocorrem em locais diferentes do endereço de residência habitual do comprador.

Por exemplo, alguém em período de férias pode decidir modificar o itinerário no aeroporto ou no destino, resultando em um endereço IP de transação distinto do usual. Isso significa que as equipes encarregadas da prevenção de fraudes têm menos parâmetros para avaliar e bloquear transações potencialmente arriscadas, exigindo análise mais minuciosa.

Eduardo Daghum, CEO da Horus Group, uma empresa especializada em avaliação de riscos de fraudes que emprega inteligência de dados, confirma a fragilidade do setor. Ele destaca a longa experiência da empresa na análise de fraudes em companhias aéreas, observando que
este setor é predominantemente associado a compras realizadas por cartão de crédito, o que torna comum o uso de informações falsas. Daghum ressalta a necessidade de uma análise de dados minuciosa, uma vez que diversos fatores precisam ser considerados nesse processo.

Na indústria, um golpe frequente é chamado de "Run and Fly". Nele, o fraudador comparece ao aeroporto com informações de cartão de crédito obtidas de forma ilícita ou por meio de outros métodos de pagamento digital, juntamente com credenciais falsas. Durante este momento, realiza a compra de uma passagem pelo celular e, posteriormente, embarca no voo.

O detentor legítimo do método de pagamento muitas vezes demora minutos, horas ou até dias para identificar a transação fraudulenta e comunicar ao banco. Neste ponto, o dano já está feito, e a companhia aérea acaba arcando com as consequências ao ser obrigada a
reembolsar o consumidor final.

“Ao mesmo tempo em que esse tipo de transação deve levantar alertas, é preciso contar com um sistema que consiga identificar as compras verdadeiras e barrar somente as fraudes legítimas para que a companhia aérea não arque também com custos de ações judiciais causadas por barrar bons clientes”, acrescentou Eduardo.

Como podemos perceber, as fraudes na compra de passagens representam um desafio significativo e multifacetado para a indústria. Com o avanço das transações digitais, os fraudadores encontram maneiras cada vez mais sofisticadas de explorar brechas no sistema, resultando em prejuízos tanto para os consumidores quanto para as empresas envolvidas.

Desta forma, a necessidade de uma análise rigorosa de dados e a implementação de medidas preventivas eficazes tornam-se imperativas para proteger não apenas as empresas, mas também os passageiros que confiam na integridade do processo de compra de passagens. A colaboração entre as partes interessadas, incluindo companhias aéreas, agências de viagens e instituições financeiras, é crucial para mitigar os riscos associados a fraudes, garantindo assim a sustentabilidade e a confiança no setor de viagens.

* Diretor Executivo da Assimptur

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