Claudio OlivaClaudio Oliva é jornalista especializado em turismo e hotelaria, pós-graduado em Turismo pela Universidade de Barcelona, presidiu a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Editor da Qual Viagem, colaborador em diversos portais de turismo, é também diretor Executivo da Assimptur Assessoria de Imprensa.

Hotelaria vive apagão de vagas e causa problemas em cidades turísticas

Cláudio Lacerda Oliva
turismologoali@hojeemdia.com.br
Publicado em 16/03/2023 às 07:02.

As atividades ligadas à indústria do turismo enfrentam um gargalo em meio à retomada dos negócios no país. Trata-se da escassez quase total de mão de obra especializada. O quadro desafia o preenchimento de parte das vagas de trabalho disponíveis em empresas como agências de viagens, bares, restaurantes e principalmente no segmento de hospitalidade, como hotéis, pousadas e centros de eventos.

Com a crise sanitária, em 2020, a demanda por atividades turísticas despencou, e trabalhadores amargaram demissões em massa. A partir da vacinação contra a Covid-19, o cenário foi invertido. A procura por viagens reagiu nos últimos meses e estimulou recontratações. A questão é que, ao longo da crise, parte dos profissionais já treinados teve de migrar para outras atividades em busca de renda e recolocação mais imediata.

Uma grande parcela desses profissionais ainda não voltou para o ramo de turismo. E talvez nem retorne tão cedo. Vem daí o descompasso, já que determinadas funções exigem algum nível de especialização. Na hotelaria, por exemplo, muitos profissionais que já tinham boa experiência acabaram migrando para outros ramos de atividade e muitos não querem voltar para a hotelaria, principalmente por terem de trabalhar aos finais de semana e feriados.

Os salários ficaram estagnados, os treinamentos e formações de novos profissionais se tornaram mais escassos, e destinos turísticos importantes sofrem com total apagão de profissionais, como camareira, recepcionista, porteiro, vigia, garçom, entre outros.

De acordo com alguns empresários, agências vêm apostando em treinamentos, mas essas tarefas muitas vezes são consideradas complexas. A maioria das oportunidades de cursos muitas vezes oferecida em cidades essencialmente turísticas como Campos do Jordao, Monte Verde, Teresópolis, entre outras tem de ser cancelada por falta de procura, mesmo a maioria sendo de forma gratuita. 

“Vimos pessoas que deixaram a área na pandemia e ainda não  retornaram”, afirma o vice-presidente de marketing e eventos da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Frederico Levy.

Agências de viagens e operadores somavam 63,7 mil empregos formais no Brasil em janeiro de 2020. O dado integra o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Durante a crise, esse número chegou a recuar para a faixa de 40 mil, subindo na sequência com o avanço da vacinação. Pela mesma lógica, em períodos de fartura de trabalhadores, uma das possíveis consequências seria o salário menor de admissão.

“Além das agências, hotéis e empresas de eventos também sentem dificuldades para preencher parte das vagas neste momento”, aponta a presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP e pesquisadora da USP, Mariana Aldrigui. “Muitos profissionais não enxergaram segurança para permanecer na área”, lembra. “Tivemos muitas migrações.”

“Na comparação com atividades turísticas, setores como o de tecnologia podem oferecer salários mais altos e condições de atuação mais flexíveis, sem a necessidade de trabalho presencial”, diz Aldrigui. Isso desafia a entrada de jovens na área de turismo. 

“Ficou difícil até trazer de volta ao escritório parte do pessoal que estava em home office”, relata Valdir Ruppel, diretor de duas pousadas de luxo em Monte Verde. “Hoje temos de oferecer trabalho com melhores salários e moradia. A mão de obra está terminando e temos de trazer muitos funcionários de cidades com 80, 90 e até 120 quilômetros de distância de nossa cidade. Monte Verde hoje vive um caos de falta de mão de obra”.

O empresário afirma que o maior gargalo no momento é o preenchimento de vagas mais operacionais. “Com isso, o serviço fica prejudicado, sobram vagas de emprego, mas falta mão de obra qualificada para preenchê-las”, afirma.

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