Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

523 anos depois

19/03/2021 às 19:06.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:27

Em 10 de março, houve eleição. Destinava-se à escolha dos novos dirigentes da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, neste ano 122 de sua existência, a ser comemorada em 21 de maio. Em muitas cidades brasileiras, há uma Santa Casa, bendita herança lusitana.

Quem fundou a instituição e a ela dedicou até a consumação de seus dias, foi Leonor de Lancastre, nascida em Beja, em 1458, mulher de dom João II. Falecidos o esposo e o filho, este em consequência de desastre aos 16 anos, Leonor devotou-se à cauda dos necessitados. 

Descendia ela das mais nobres famílias de Portugal e com a morte do marido, viveu modestamente, vestida com o hábito de franciscana, sem professar. Atravessou uma das épocas mais intensas da vida nacional, com as lutas na África, a guerra com Castela, a preparação das descobertas e as viagens dos grandes navegadores, inclusive à Índia e ao Brasil, bem como os esforços militares e políticos para consolidação do Império ultramarino.

Dona Leonor se voltou ao amparo dos necessitados, tratamento dos enfermos, o amparo aos condenados à morte sem defesa, à proteção às crianças e aos idosos, através das Santas Casas, que evoluiu no universo português. Em 2019, quando a SCMBH completou 120 anos, festejou a efeméride juntamente com a Santa Casa de Macau, na China, que chegava aos 450 com os mesmos princípios e desígnios.

A escolha de seus dirigentes, em Belo Horizonte, este ano, se fez virtualmente por motivos sabidos. Foi reeleito para mais três anos o provedor Saulo Levindo Coelho, de ilustre clã da Zona da Mata, neto do senador Levindo Eduardo Coelho e filho do ex-governador Ozanan Coelho. Já com 21 anos à causa, começa novo mandato, em meio à dramática pandemia do coronavírus, com muitos milhares de vidas já extirpadas à nação. É o provedor com mais longo tempo de devotamento à entidade, seguindo José Maria de Alkmim, que ali esteve além de 36 anos. Com diretores conscientes de sua missão (Guilherme Gonçalves Riccio, Gonçalo de Abreu Barbosa e Carlos Renato de Melo Couto), o reeleito reconhece as próximas dificuldades e desafios, mas a causa é justa e humana. Resta preservá-la com sincera disposição como o fez Dona Leonor, em 15 de agosto de 1498.

Neste período de dor e angustia para o Brasil e o mundo, pode-se avaliar a grandeza da benemérita obra das Santas Casas, como a de Belo Horizonte oferecendo um exemplo de solidariedade aos que lutam contra a maior pandemia deste meio milênio de história.

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