Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A morte de Nava

Publicado em 15/05/2024 às 06:00.

Completam-se 40 anos. Na noite de 13 de maio de 1984, no Rio de Janeiro, suicida-se o escritor Pedro da Silva Nava, com um tiro na cabeça após receber um misterioso telefonema. 

Havia transcorrido menos de 30 anos do suicídio de Getúlio Vargas, que dera fim à vida mas com um tiro coração, na manhã de 24 de agosto de 1954, em seu dormitório no Palácio do Catete, após reunião com seus mais graduados auxiliares e no ápice de uma crise política.

Médico inovador, juiz-forano, Pedro Nava, memorialista dos maiores a que Minas serviu de berço, ele começa as mais de 5 mil páginas de obra jamais concluída, parafraseando Eça de Queiroz: “Eu sou um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais. Se não exatamente da picada de Garcia Rodrigues, ao menos da variante aberta pelo velho Halfeld e que, na sua travessia pelo arraial do Paraibuna, tomou o nome da Rua Principal e ficou sendo denominada a Rua Direita da Cidade de Juiz de Fora. Nasci nessa rua, número 179, em frente à Mechanica, no sobrado onde reinava minha avó materna. E nas duas direções apontadas por essa que é hoje a Avenida Rio Branco hesitou a minha vida”. A literatura brasileira perdeu naquela noite de domingo um de seus mais importantes nomes, o memorialista Pedro Nava. Ele foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na rua da Glória, no Rio, perto de onde morava. Segundo a polícia, foi suicídio. Ele completaria 81 anos de idade em junho. 

Mineiro, médico, companheiro de Carlos Drummond de Andrade na vanguarda modernista, amigo dos mais importantes personagens do mundo cultural do País, até 1972 Nava só havia publicado poemas esparsos. Naquele ano, editou seu primeiro livro ("Baú de Ossos"), ao qual se seguiram mais cinco. Sua sétima obra ("Cera das Almas") já estava praticamente concluída.

Foi possível recompor os últimos passos de Nava. Na noite de domingo, em seu apartamento na rua da Glória, ele terminou de escrever o discurso que deveria pronunciar na Assembleia Legislativa do Rio, no dia 23, quando receberia o título de Cidadão Fluminense. Mostrou o discurso à mulher, d. Antonieta, e jantou normalmente. Por volta das 20 horas, o telefone tocou e a esposa atendeu, uma voz de homem perguntava por Pedro Nava. Este ouviu em silêncio o que a voz lhe dizia e depois desligou. À mulher, ele informou apenas tratar-se de um trote de mau gosto. Às 22 horas, dona Antonieta foi ao banheiro. Nava então saiu, sem avisá-la (segundo a família, "fugiu"). Mais tarde, foi visto sentado à calçada, parecendo abatido em meio ao movimento de prostitutas e travestis. Às 23h30, o tiro, disparado de um velho revólver calibre 32, do próprio Nava.

Em entrevista concedida à "Folha" em junho anterior, em seu 80° aniversário, ele dissera “ter pensado várias vezes no suicídio, mas que o fato de ser médico o protegera, até ali, contra o ato”.

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