Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A vacinação: solução e problema

Publicado em 21/12/2020 às 18:15.Atualizado em 27/10/2021 às 05:22.

No dia 3 de dezembro, neste interminável 2020, o mundo estava como nos demais dias: em atenção para a possibilidade de, finalmente, ser aprovada uma vacina contra a Covid-19. Jamais se pronunciou tanto o nome da doença, que surgira numa cidade chinesa, há cerca de um ano.

As organizações científicas, unindo o planeta, se esmeravam, mesmo em alta velocidade, em conseguir um imunizante, cujos perigos certa gente menosprezava: negacionistas. Não acredita sequer no número de óbitos e contaminados.

O Reino Unido anunciou que iria, na semana seguinte, permitir a aplicação da vacina Pfizer/Biontech, num primeiro grupo, como os idosos, seguidos de médicos, técnicos de saúde e outros. As possíveis vítimas já perdiam paciência com procrastinações, sobretudo as produzidas pela politicagem. Quantos mais perderiam a vida?

Em Londres, Cristina Toscano, professora da Federal de Goiás e única especialista brasileira e latino-americana no Corpo Conselheiro Estratégico em Imunização da Covid da OMS, desencantou e divulgou sobre o Brasil, pela BBC: " Se tudo der certo, as primeiras avaliações preliminares das vacinas vão começar. A Anvisa vai levar pelo menos um mês para analisar os pedidos de registro. Depois disso, você tem todo o controle de qualidade, que é feito obrigatoriamente em cada lote. Na sequência, há o processo de distribuição para as dezenas de milhares de postos de saúde do Brasil. Isso tudo não acontece do dia para a noite. Sendo realista, a vacinação não vai acontecer em dezembro ou janeiro".   

A imunização, que deveria ser um alento e uma esperança, transformou-se num problema, causado pelas divisões políticas, pelo negativismo de setores do governo, a começar pelo Palácio do Planalto, que impôs um competente oficial do Exército para a pasta da Saúde, por entender de logística. É desalentador o que acontece presentemente, em decorrência do que, aliás, o país, na péssima situação diante da gripezinha que mata centenas de pessoas e contamina milhares diariamente, não acompanha a evolução dos acontecimentos e não chegará junto às nações na hora da imunização.

Vacinas estarão à disposição, não há dúvida, e de mais de duas procedências, enquanto as festas de fim de ano, como as de Natal, podem virar um Deus nos acuda com a proibição de aglomerações. O problema contribui para aquecer o forno dos desentendimentos em Brasília.

O IBGE libera mais uma Tábua de Mortalidade no Brasil. A expectativa de vida dos brasileiros ao nascer aumentou três meses de 2018 para 2019. Claro que não fez a previsão dos que perderão a vida por Covid, que perambula por todos os locais do país com sua foice ceifadora.

Eufórico, o presidente Bolsonaro declarou: "Vacina, uma vez certificada pela Anvisa, nós compraremos para que a população possa, de forma voluntária e gratuita, receber a aplicação". Não seria como a do tempo polêmico de Rodrigues Alves e Oswaldo Cruz. Veremos.

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