Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Ainda sobre 1964

Publicado em 17/04/2024 às 14:16.

Não se disse tudo sobre o golpe de 1964. Ou revolução, como preferem outros considerá-la. Inúmeros os mortos, feridos, expulsos do país, fugitivos. O ambiente se caracterizara pela intolerância, pela disposição de mudar um quadro muito anteriormente esboçado e preparado. 

Quando finalmente se deu largada para a publicação de um livro revelador como “Memórias: A verdade de um revolucionário”, muitos anos tinham decorrido, como bem o sustenta o próprio autor, o general Olympio Mourão Filho, com apresentação e utilização de arquivos do historiador Hélio Silva.

O general que comandou a tropa que partiu de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964, confessa que ele próprio “não pretendia escrever, nem muito menos publicar este livro”. 

“Explica que aqueles que assim procedem terminam sem importância, com prejuízo do geral, objeto da História; ou, ainda, dominados pela paixão despertada ao sabor dos acontecimentos, falseá-los, o que ainda é pior; além disto, como a História não é um relato puro e simples, é necessário tempo para o exame das reações e consequências, que não podem ser adivinhadas”.

Diz o velho general: “Minha intenção era deixar apontamentos relativos aos fatos, a fim de permitir a historiadores futuros, não envolvidos diretamente neles a tarefa de relatar imparcialmente os eventos, desprezando as minúcias, fazendo luz sobre o fato geral e tirando as consequências que só o futuro pode mostrar”.

Com os anos, Mourão sentiu que era dever escrever. “Para restabelecer a verdade para destruir os falsos e numerosos heróis, a começar por mim próprio, que não pratiquei nenhum, heroísmo. Para fazer aluir a pretensão de falsos chefes da Revolução”.

Afirma, peremptoriamente: “Meu verdadeiro e principal papel consistiu em ter articulado o movimento em todo o país e depois ter começado a Revolução em Minas. Se nós não o tivéssemos feito, ela não teria sido jamais começada”.

Tanto anos decorridos de 1964, ler o que conta Olympio Mourão é válido. Pairam ainda dúvidas ou controvérsias sobre a revolução/golpe, que repercute na vida, de cada brasileiro e de todos, em nossos dias, em outro século e sob outras circunstâncias.

Uma coisa é certa e insofismável. O livro do general ajuda, e muito, a entender os acontecimentos de décadas transpostas. Não sei se o volume é encontrado ainda em livraria; ou em algum sebo, talvez.

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