Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Apressa-te, devagar

Publicado em 04/10/2016 às 19:30.Atualizado em 15/11/2021 às 21:06.

Os dias difíceis que a nação atravessa me incentivam a voltar ao tempo de Augusto, primeiro imperador de Roma, sobrinho de César, de quem recebeu um legado precioso, mas perigoso, tal a desagregação do Estado. Soube, contudo, enfrentar obstáculos e venceu.

Não sem razão, mereceu o texto da “Eneida” (VI. 701.794), transcrita pelo prof. J. Lourenço de Oliveira, em livro, de quem tenho um exemplar com dedicatória da esposa Alaíde Lisboa de Oliveira, irmã de Henriqueta e ex-integrante da Academia Mineira de Letras. Vai a repetição em latim: “Hic vir, hic est, tibi quem prometio saepitus audis, Augusto Caesar, Divi genus, aurea concet/Secula qui rursus Latio riegnata per arva/ Saturno quondam...”

Isto é: “Este varão que vês tão frequentemente prometido é César Augusto, de origem divina, que instaurará no Lácio, outra vez, os áureos séculos sobre as terras outrora governadas por Saturno...”

Virgílio adivinhou o futuro de Roma na pessoa de César Augusto, vaticínio de clarões imortais, no dizer do prof. Lourenço. De fato, o sobrinho de César não restabeleceu a idade de ouro, mas deu ao Império um largo período de tranquilidade e grandeza, como ora tanto necessitamos no Brasil.

O templo consagrado a Juno, em Roma, ficava aberto quando os soldados iam à guerra, para que o deus acompanhasse as legiões em seus combates. Durante duzentos anos não fora fechado, porque Roma estava sempre nos campos de batalha. Augusto voltou da campanha contra Cleópatra e o fechou: indicava que a paz voltara sobre o Império.

Leo Homo, referido por Veleio Patérculo, observa que, com Augusto, proporcionou-se ao povo romano e ao universo tudo aquilo que os homens podiam pedir aos deuses, tudo aquilo que os deuses podiam conceder aos homens, e que os desejos podem exprimir ou a felicidade realizar.

Não é o que os brasileiros esperam? E o que fez o prodigioso romano? Abafou discórdias civis que somavam vinte anos, restituiu a força da lei, a autoridade aos julgamentos, a majestade ao Senado, o respeito às magistraturas. Mais ainda: deu braços à agricultura, deu culto à religião, segurança aos cidadãos, garantia às propriedades.

E conformando Lourenço: “Tudo conseguiu com aquela vontade sábia e paciente, vontade jeitosa, que não entrava de golpe, mas progredia suavemente sobre o terreno que conquistasse. Seu estilo tinha ideias originais: a preocupação de garantir o tempo pela frente e o gosto de dar ao seu absolutismo as aparências legais, a fachada civil.

Graças a essas linhas mestras, viveu longamente ao lado do povo, enquanto o Senado lhe ia renovando os mandatos e mandados. Do seu amor ao tempo é a existência da máxima, que Suetônio afirmava de sua predileção: “Festina lente”, ou seja, apressa-te devagar.

Deste modo, Augusto revestiu com o manto da lei seu poder, que exerceu toda a vida, com direito a transmiti-lo a um herdeiro. E, assim, Augusto começou as reformas sociais.

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