Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Justa distinção

Publicado em 11/10/2025 às 06:00.

Fica-se feliz com a notícia: Conceição Evaristo recebe honraria acadêmica da UFMG. Poder-se-á perguntar – por quê? Ela se consagrou escritora, pertence à Academia Mineira de Letras, mas é uma negra com 78 anos de vida, nascida em Belo Horizonte na favela do Pindura Saia, de humilde família, com parto na Maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa, a primeira de Minas, fundada por Hugo Werneck e inaugurada em 1916, na rua Álvares Maciel (o nome é de um inconfidente como Tiradentes). Lá, eram acolhidos os filhos da gente que não podia pagar o trabalho de uma parteira, como costume da época.

O prédio do estabelecimento foi projetado pelo arquiteto Francisco Izidro Monteiro e até hoje apreciado por suas linhas neogóticas. Milhares de mães tiveram seus filhos lá, porque a população belo-horizontina  era gente de parcos recursos. Assim aconteceu com Maria da Conceição Evaristo de Brito, que hoje goza de prestígio nacional com livros traduzidos e que deles e de sua vida fala para auditórios de universidades em vários países. O princípio foi em favelas, palavras que foi substituindo por “comunidade”.

Ao ver-se distinguida com a honraria acadêmica, Conceição Evaristo se igualou a Juscelino (que foi médico na Santa Casa) e José Saramago. Falando à Imprensa no dia da láurea, a premiada autora comentou: “Não há como pensar em Estado democrático se não por uma educação democrática”. Uma lição que todos precisavam aprender. A reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, justificou a nomeação de Conceição Evaristo com título de Doutora Honoris Causa da Universidade, em voto secreto com pelo menos dois terços no Conselho Universitário e da congregação: “A obra dela tem um valor inestimável. Não apenas para as gerações mais novas, mas para toda a literatura brasileira. É um reconhecimento nacional e internacional, e nos orgulha muito pela oportunidade de prestar essa homenagem”.

Correspondida, portanto, ao que dissera Hugo Werneck em discurso: “A Maternidade dota a capital de um estabelecimento pio que honra sobremaneira a nossa cultura, por estar montado de acordo com as maiores exigências da ciência médica”.

Conceição Evaristo prova e comprova o julgamento do apreciado e admirado profissional da Medicina a quem muito devem os mineiros.

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