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Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Minas, como ela é

Publicado em 24/12/2022 às 06:00.

De querida senhora da sociedade de minha terra natal, Montes Claros, recebi a pergunta: “O que você acha que vai ser do nosso amado Brasil daqui para frente? Estou muito angustiada quanto aos acontecimentos nacionais”. O desembargador Rogério Medeiros me ajuda na resposta, citando Alceu Amoroso Lima, na revista “MagisCultura”: “As montanhas de Minas Gerais limitam os horizontes e os habitantes vivem de forma tranquila e pressa. Os mineiros são ensimesmados e meditativos”.

Affonso Romano de Sant’Anna observa: “Minas é um modo de ser e de estar”. A riqueza de Minas está inscrita no seu próprio nome – é um estado plural. Plural de montanhas, plural de minérios e de mineiros (...). “Os mineiros se divertem a si mesmos e aos demais falando da “mineiridade” (sabedoria) e da “mineirice” (esperteza)”.

Na política, Benedito, Alkmim e Tancredo Neves ilustram esse anedotário. E outros se especializaram nessa irônica interpretação, como Guimarães Rosa, Drummond e Fernando Sabino. O próprio genro de Benedito Valadares, governador de Estado quando nos demais eram interventores, o que explica o jeito e a maneira de ser mineiro: “Ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão para não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão em cumbuca. Não dar passo maior que as pernas. Não amarrar cachorro com linguiça. Porque mineiro não prega prego sem estopa. Mineiro não dá ponto sem nó. Mineiro não perde trem (...). “Evém mineiro. Ele não olha: espia. Não presta atenção: vigia só. Não conversa: confabula. Não combina: conspira. Não se vinga: espera. Faz parte do decálogo, que alguém já elaborou. E não enlouquece: piora. Ou declara, conforme manda a delicadeza. No mais, é confiar desconfiando. Dois é bom, três é comício. Devagar, que eu tenho pressa (...). Um Estado de nariz imenso, um estado de espírito: um jeito de ser. “Manhoso, ladino, cauteloso, desconfiado – prudência e capitalização”.

Assim sendo, o homem de Minas deixa a viola da seresta e parte sem temor para uma revolução, como se fossem assemelhados. O que mineiro não aprova é perder a namorada ou uma batalha. Basta conferir na história, também varia em muitos setênios. Como disse Drummond, poeta e mineiro, “o Estado mais conservador da União abriga o espírito mais livre, porque a aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia”.

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