Nesta hora lastimável para Minas, ofendida e humilhada por uma dívida imensa para a qual não se encontrou solução digna, não posso deixar de lembrar o governo Silviano Brandão (1898 - 1902). O historiador João Camilo de Oliveira Torres registra que o Estado se metera em “grandes aventuras” e o peso maior recaíra no governador Silviano Brandão, que viveu uma “tragédia”.
Repito: Silviano teve de lançar mão de todos os recursos. “Cortou despesas enquanto lhe foi possível, fechando escolas e estabelecimentos de grande necessidade, demitindo funcionários; dizem depoimentos pessoais que assinava os decretos chorando, pois, compreendia vivamente que estava levando o mal a amplos setores do povo, mas não lhe restava outro meio”.
O crédito não era fácil, forçando-o até a recorrer à poderosa St. John del-Rei Mining Co. E os ingleses de Nova Lima deram dinheiro ao governo do Estado. “Afinal, como solução heroica, o imposto territorial, na época, por força das ideias de Henri George, considerado um expediente socialista”. Os fazendeiros, que constituíam a força mais poderosa de Minas, reagiram, queriam fundar um partido para a defesa de seus interesses. Silviano chegou a fazer as malas para deixar o palácio. “Aos poucos a crise foi vencida. Mas, Silviano Brandão não chegou a ver a vitória. Foi vencido, também”.
Médico, Silviano empregou largamente os recursos cirúrgicos. Suprimiu verbas, suspendeu serviços, extinguiu cargos de comissões. Reformou o sistema tributário, criando o imposto territorial. Com energia e firmeza, conseguiu, pela primeira vez na República, unificar a representação mineira, “reunir a boiada”, como então se qualificou a delicada operação de levar à Câmara Federal a famosa bancada do apoio incondicional.
Silviano venceu. Indicado na chapa como vice-presidente da República, ao lado de Rodrigues Alves, “esteve a pique de faltar ao banquete de leitura da plataforma, porque não possuía casaca, nem dispunha de dinheiro para a viagem ao Rio. Cotizaram-se para adiantar-lhe a quantia necessária a alguns amigos, que também não eram abastados...”.
Esse homem admirável não foi poupado pela imprensa... Morreu no exercício da chefia do governo de Minas.