Reconheço a importância das matérias do jornalista Gustavo Werneck em jornal de Belo Horizonte. Ele focaliza a história de pessoas, de objetos, de localidades, que - por alguma razão - entraram para nossa história. E, em Minas, ainda há muito a descobrir e identificar, porque muito da velha província ainda não foi descoberto. Assim, Gustavo ajuda a desvendar locais, episódios e personagens de nossa crônica.
Em 13 de março deste ano (por sinal, meu aniversário), encontrei de Werneck um relato sobre um órgão secular existente entre nós - “construído entre 1700 e 1710 na Alemanha e desde 1753, na mais antiga cidade de Minas, instrumentos de igreja de Mariana o que teria seus ‘pulmões’ recuperados em oficina especializada, ao custo de R$1,2 milhão”. Isso mesmo!
Em didática reportagem, leio a descrição feita pelo companheiro de Imprensa e lembro que Salvador Ferrari também já focalizara o tema. Ele foi médico, muito querido, amante da História, pesquisador e ex-prefeito de Ponte Nova, cuja prosa encanta, “pela linguagem coloquial, correta, fluente, agradável”, na expressão do historiador Mário Clímaco.
Salvador Ferrari lembra que o celebrado “harmônio” foi construído em Hamburgo, em 1701, pelo maior organeiro de todos os tempos, o alemão Arp Schnitger. Ficou sem poder funcionar desde 1937. Em 1988, foi levado à Alemanha para minucioso processo de reabilitação, graças ao esforço da Arquidiocese de Mariana, de seu eminente Arcebispo, Dom Oscar de Oliveira, e do Exmo. Sr. Dr. Francisco Afonso Noronha, e presidente da Cemig, responsável pela criação de um grupo de empresas patrocinadoras. Após seis anos de restauração, retornou, com toda sua fascinante sonoridade, ao seu majestoso trono, que ocupara desde 1753, na catedral de Mariana”.
Não se esgota aqui a narrativa. O prefeito Ferrari, poeta e prosador, médico, clinicou em Furquim, distrito de Mariana, quando foi designado pároco o Padre José Soares de Oliveira, amigo e conterrâneo, convidado a celebrar missa de sétimo dia em sufrágio da alma de alguém que sequer conhecia. O padre Zequinha, sabendo que Ferrari dedilhava algumas músicas ao piano, pediu-lhe que executasse algo no tal harmônio.
O pretenso músico tentou desvencilhar-se da missão, argumentou que só conhecia música popular, inconveniente para a hora e local, mas não foi compreendido. Ele confessou: “A hora da consagração, imaginem o que veio à mente? La Cumparsita. Que horror! ”
O médico concluiu: “Tomei o famoso tango argentino cuja melodia recebeu, sabe Deus como, ritmo lento, muito lento. A modo de marcha fúnebre, que improvisei sob silêncio generalizado”. O público gostou.