Embora os embalos do alegre Carnaval pudessem dar impressão contrária, não vejo com bons olhos o que março nos reserva. O adjetivo “sombrio”, que frequentemente uso, é condenado por não identificar para muitos a impressão adquirida pelo terceiro mês.
Sombrio, contudo, não me parece palavra abominável diante das atuais circunstâncias. Assim nos encontramos, se considerarmos a acepção de carregado, ou turvo, como a usou Cruz e Silva, em “O Hissope”. Mas outro significado seu é de inquietador, o mais admissível agora, quando se notam vislumbres de grande preocupação, a despeito de se pregar luz, paz e harmonia.
Março nos traz da memória fatos graves na história, muito especialmente aquele envolvendo César. Aconteceu nos Idos, vocábulo que identifica o dia 15 de março, maio, julho e outubro do ano, e o dia 13 dos outros meses no antigo calendário romano.
A importância dos Idos de Março se deve a acontecimento culminante na história de Roma: o assassinato de Caio Júlio César. De regresso das campanhas na Gália, na Bretanha e na Espanha, cercado das maiores honrarias pelo povo, ídolo de suas legiões e elevado a ditador perpétuo, por certo não ignorava que se manobrava contra ele. Entre os conspiradores e à sua frente, Cássio e Bruto, seus amigos e este também pupilo e protegido, a que dedicava paternal estima.
Havia-se previsto que, nos Idos de Março de 44 a.C., a sua vida correria risco grave. César riu-se da previsão, sobre a qual já o alertavam os amigos e a própria esposa. Dirigiu-se sem medo para o Senado, onde os conspiradores já o esperavam.
O dia lhe seria fatídico. A caminho do Senado, um velho adivinho, ao ver passar a liteira pelas ruas de Roma, aproximou-se e exclamou: “Lembre-se dos Idos de Março”. Indiferente, César seguiu o itinerário e chegou ao destino. Ali, discursando para defender-se dos que o acusavam, foi rodeado e um dos inimigos feriu-o pelas costas. Quando o triunfador das Gálias tentou reagir, percebeu erguer-se à sua frente, Bruto, o afilhado. Foi quando César lançou a frase famosa: “Tu quoque, filius meus”. Naquele momento, cobriu a cabeça com o manto, deixou-se apunhalar e caiu morto.
Nunca, jamais, em tempo algum, aqui entre nós, o Brasil viveu período de tamanhas e tantas dúvidas sobre a conduta, passado, presente e futuro de suas lideranças e de seus representantes legais, após uma imensidão de denúncias, acusações, delações e boatos. Sequer os colaboradores mais próximos do presidente da República escapam ao círculo das suspeitas e desavenças. Faltam punhais.
Anuncia-se que o procurador-geral da República apresentará, nos próximos dias, em torno de duzentos pedidos ao Supremo Tribunal Federal para abertura de inquéritos, oferecendo denúncias, sugerindo desmembramentos ou o fim do sigilo de delações premiadas de executivos da Odebrecht.
A chapa Dilma-Temer está sob julgamento no Tribunal Eleitoral e o ministro Hermann Benjamin, corregedor da Justiça Eleitoral, começou a ouvir executivos da Odebrecht sobre a histórica ação, que visa à cassação da chapa presidencial em 2014. E há muitíssimo mais.