Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O futuro ameaçado

Publicado em 01/04/2017 às 06:00.Atualizado em 15/11/2021 às 13:58.

Em face dos ingentes, delicados e complexos problemas que afligem o mundo e, especificamente, o Brasil, neste quase fim de segundo decênio, do século XXI, medito. E há muito a meditar, diante do nível de insensibilidade humana, da degradação de costumes de modo geral, entre os quais os vigentes nos anais políticos.

O Brasil se tornou nação-problema, embora sempre ostentasse adequadas condições para fazer o seu povo feliz e próspero. No entanto, o que se vê, acompanha-se e se sente é uma débâcle que corrói grande parte do que ainda há de honesto e digno. 

Era comum a nossas lideranças falar em pátria, honestidade e futuro, o que se transforma em lembrança cada vez mais distante. As palavras aparentemente foram riscadas dos discursos, até parecem ter perdido muito de seu sentido na atual fase de corrupção. 

Faço o raciocínio, ao lembrar Francisco, o papa, ao apresentar à comunidade cristã a sua encíclica Laudato si: que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer? A indagação é grave: “para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos?”.

Mais adiante, o pontífice propõe empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política, um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes, enfatizando que nenhum projeto pode ser eficaz se não for animado por uma consciência formada e responsável.

Sublinha o moderno excesso de antropocentrismo: o ser humano não reconhece mais sua correta posição em relação ao mundo e assume uma posição autorreferencial, centrada exclusivamente em si mesmo e no próprio poder. 

Daí a lógica do descartável, tratando o homem como um simples objeto de dominação. É a lógica que leva a explorar meninos e meninas, a abandonar os idosos, a reduzir os outros à escravidão, a superestimar a capacidade do mercado de se autorregular, a praticar o tráfico de seres humanos, o comércio de peles de animais em extinção e de “diamantes ensanguentados”. É a mesma lógica de muitas máfias, dos traficantes de órgãos e de drogas, do descarte de crianças por não corresponderem ao desejo dos pais. 

Neste começo do segundo trimestre de 2017, o quadro é dramático no Brasil, mas não somente aqui. Evidentemente têm os brasileiros de cuidar-se, em meio à tempestade e ao desvario de uma sociedade vergastada pela degradação.

As previsões são terríveis. A Organização Mundial do Trabalho advertiu, há poucos dias, que o mundo necessita de 40 bilhões de novos postos de trabalho. Isso tem consequências funestas, porque trabalhando é que se dá sentido à experiência humana.

Mas deve doer à consciência deste país notícias como a do menino de 6 anos, na Grande São Paulo, que ofereceu aos bandidos armados seu cofrinho de moedas para tentar salvar a vida do pai. Os criminosos queriam saber onde estava o cofre. 

O marceneiro levou um tiro fatal no peito, diante da criança e de sua mãe após a humilde habitação ser invadida. Os malfeitores não sabem perdoar.

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