Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O irmão indígena

Publicado em 13/08/2022 às 06:00.

Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500, mas os índios que por aqui existiam somente muito mais recentemente estão sendo efetivamente conhecidos, como suficientemente se começa a saber, pelos próprios donos da terra, como se costuma dizer. E eles estão se revelando em integridade, como se verifica.

Embora continuem embates em todo o território nacional, vê-se que nossos indígenas têm imensidão de si mesmos a mostrar à sociedade neste século fluente. A eleição de Ailton Krenak para a Academia Mineira de Letras é demonstração de que o povo tão bem descrito, embora resumidamente, por Caminha, tinha condições de revelar-se. Uma simples espera seria bastante.

Não podia adivinhar o autor da carta de batismo do Brasil que haveria tanta dor, tanto sacrifício, tanto sangue, para consumação de uma alta destinação histórica. O próprio Ailton, agora eleito acadêmico, narra em livro a saga dos Krenaks em inóspitas regiões, para se afirmar e expor sua grandeza.

Séculos se exigiram para assimilar de fato a relevância do significado. O processo não foi concluído, o empenho permanece e os registros por veículos de comunicação, pelos escritores das respectivas regiões e dos próprios indígenas, são reveladoras. A convivência diária, e a situação em que se encontram (e nos encontramos) com refregas que se espalham pelo território, com ênfase na Amazônia, oferecem um quadro vívido e preocupante.

No aqui, quase agora, há de aproximar-se obrigatoriamente das perseguições aos integrantes da comunidade indígena, transferida ao Reformatório Agrícola Krenak, uma chaga ainda viva na crônica de dor da tribo. Mácula que não se restringe, como se constata, à exposição, escravização e tortura de um povo  no período colonial.

O ingresso de Ailton no sodalício da rua da Bahia, e publicação de suas obras, o conteúdo do número mais recente da Revista da AML, demonstram que caminhamos, embora em ritmo lento, para a melhor destinação do irmão indígena, que chegou antes de nós. Ele tem direito e merece seu lugar.

Por tudo isso que ficou dito, aconselha-se a leitura do número 91 da Revista da AML, com conteúdo precioso sobre a saga dos nossos irmãos índios. Eles chegaram aqui antes d própria história brasileira que conhecemos.

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