No agosto que logo seria passado neste 2023, os jornais de Minas Gerais, sobretudo os da capital, deram ampla cobertura ao falecimento, no dia 13(não era sexta-feira!), de José Murilo de Carvalho. Ressaltavam que, entre outros títulos, era ele membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências.
“Foi um grande pensador do Brasil, está entre os maiores historiadores de qualquer tempo”, defini-o Heloísa Starling, que bem poderia tecer o elogio do ilustre brasileiro. Lilia Moritz Schwarcz, também historiadora e antropóloga, professora da USP, acrescenta: “Com sua formação interdisciplinar, José Murilo, foi um historiador que revolucionou o estudo sobre o Império brasileiro, até então considerado sem importância”. Mas ele mostrou como muito das bases da estrutura institucional brasileira veio no contexto imperial, sobretudo a partir do Segundo Reinado.
No entanto, José Murilo não foi o mais “badalado” historiador do Brasil, inclusive por ter nascido em Minas Gerais, um estado que não tem merecido a melhor atenção e o elogio dos intelectuais da pátria, nem me perguntem por quê. Recolhido ao convívio da ABL, contudo, não se eximiu de emitir opiniões; tanto do tempo pretérito, que muito exigiu de seus esforços, mas da nação de nossos dias. Acrescentou anos à idade, mas não envelheceu. Teve o cuidado e a coragem, inclusive, de manifestar-se sobre os acontecimentos de 1964 e anos seguintes.
Leia-se, por exemplo, o que escreveu: “Quando veio 1964, a sensação que eu tive foi de perplexidade”. Eu me lembro de a gente andar por Belo Horizonte no dia primeiro de abril, perplexo. Não é que as pessoas não esperassem o golpe.
Havia uma expectativa. Expectativa havia. Pessoas que falavam na viabilidade do golpe. Mas ninguém previu o tipo de golpe que foi dado. Isso é... Os militares tomaram o poder e ficaram no poder. Isso era inédito no Brasil”.
Poderia parecer uma anedota, não fosse José Murilo um cidadão cônscio, da maior responsabilidade intelectual e cívica. Nesta hora, é convidativo falar de Murilo. E Rogério Faria Tavares, presidente emérito da Academia Mineira de Letras, constitui bela proposta, pois já tem excelente livro publicado sobre o escritor nascido em Andrelândia. O antecessor de Jacyntho Lins Brandão na Academia foi muito feliz em suas considerações pelos jornais.