Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O nosso petróleo

Publicado em 16/04/2024 às 06:00.

Josué Montello é nome consolidado como um dos grandes escritores brasileiros no século passado. Conviveu com os maiores de seu tempo, mas também com diplomatas, políticos e, enquanto se dedicava à literatura,  fazia anotações em cadernos próprios, dos quais não se apartava. Confessava: "Nada mais sou do que escritor. Escritor pela graça de Deus. Não me deduziram outros títulos. Não busquei outras recompensas. E, se tivesse de reviver esta vida, queria vivê-la com igual pendor”.

 Acrescenta: "Já descendo a outra encosta da vida, a nada mais aspiro do que este canto, esta folha de papel, esta caneta, estes livros e a luz desta mesma lâmpada, enquanto ouço perto de mim os passos da companheira perfeita, outra dádiva de Deus".

Concluída a sua obra como romancista, pôde voltar-se para a publicação de seus diários, valiosos pela sua qualidade literária, mas também pelo conteúdo, porque neles encontramos referências a episódios que não exigiram as numerosas e cuidadosas páginas da ficção.

No "Diário da Manhã", editado pela Nova Fronteira em 1984, Montello anotou em 16 de dezembro de 1953: "Vargas, há dois meses, deu um passo arrojado, que o restituiu aos dias em que criou Volta Redonda; assinou a lei que instituiu o monopólio estatal do petróleo, criando a Petrobras”.

No Hotel Glória, onde vou visitar o Ministro João Neves da Fontoura, este me diz, com ar consternado, ao pé da orelha, no momento em que vem deixar-me à porta do elevador:

- Getúlio semeou ventos; vai colher tempestades. A esta hora,  já estou querendo ver onde me abrigar durante o temporal".

Decorridos tantos anos, decênios até, fica-se a meditar sobre o pensamento do antigo ministro Neves da Fontoura. Depois do movimento do Petróleo é Nosso, que reuniu nas capitais a juventude entusiasmada com a possibilidade de o Brasil libertar-se da dependência ao jugo óleo negro, somados aos comunistas que não eram poucos, a empresa estatal deu e dá fortes dores de cabeça aos chefes de governo. Lembre-se da Lava Jato, por exemplo, e quantos  tiraram proveito dos lucros da estatal,  ilicitamente.

A mais recente ou atual crise na Petrobras ganhou corpo após o seu Conselho de Administração reduzir o pagamento de dividendos, guardando o lucro de R$ 43,9 bilhões para reserva da remuneração de capital. Com isso, a União, principal acionista da estatal, deixaria de receber R$ 12 bilhões, o que desagrada ao governo de forma geral, além de colocar o nome do presidente Jean Paul Prates na mira do Ministério de Minas e Energia e de outros ministros palacianos. Esperam-se decisões importantes na reunião do dia 25. 

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