Em princípio de manhã ainda de outono, no período triste de pandemia pelos quatros cantos do mundo, volto à leitura de “Sob a sombra da noite”, em que o jornalista Roberto Elísio Castro Silva, nos sacia com excelentes crônicas antes publicadas na capital.
A edição vai completar 20 anos, mas ganha mais sentido e expressão exatamente por isso. Para se medir a importância da obra, bastaria dizer que ela tem as duas orelhas com assinatura de Murilo Badaró, então presidente da Academia Mineira de Letras e prefácios de Aureliano Chaves e Antônio Álvares da Silva. A apresentação do autor, modestamente afirma que se trata de “lembranças recolhidas no passar do tempo, a partir da origem em Santa Luzia, suave terra onde nasci numa chuvosa manhã de janeiro”.
O volume, porém, é algo como dito por Goethe, via seu personagem Werther, para quem “não há alegria mais verdadeira e cálida neste mundo do que ver uma grande alma que se abre inteiramente para nós”. É o que acontece.
Por sua posição na imprensa escrita, essas crônicas passam a fazer parte da própria história de Minas, pela expressão dos personagens mencionados ou pelo que elas contêm de grandeza relacionada à cidade natal do autor, com sua riqueza impregnada na tradição preservada por um povo muito especial.
Conto um caso descrito por Roberto Elísio envolvendo Geraldo Teixeira da Costa, Gegê, o homem da Imprensa do governador Bias Fortes, bem antes, pois, da reforma administrativa de Magalhães Pinto, com o prof. Paulo Neves de Carvalho como secretário de Administração.
Naqueles dias, assoberbado, Gegê me procurou para consultar se eu não aceitaria substituí-lo no Palácio, na área de comunicação. Eu lhe respondi que dependeria de o prefeito Amintas de Barros me liberar de seu gabinete. A proposta foi esquecida, mas o problema seguiu.
“O erário mineiro passava por penúria, com pagamento do funcionalismo atrasado, o chefe do governo extenuado, quando uma das filhas de Bias indagou de Gegê o que se deveria fazer para que o jornal não mais falasse do assunto e aliviasse o político barbacenense. A resposta veio de imediata: “Pague, uai”.