Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Perguntas de história

Publicado em 21/05/2022 às 06:00.

Em 1965, foi publicado meu segundo livro – “Considerações sobre Hamlet”, em que se descreve a história da famosa tragédia de Shakespeare. Seu personagem central tem sido interpretado por alguns dos maiores artistas de teatro e cinema em todos os tempos. Reporto-me às origens da história, para lembrar que o autor se inspirou na “Gesta Danorum”, de Saxo Grammaticus, um frade do século XII.

Esses pormenores voltam à memória agora que a guerra entre Rússia e Ucrânia passou a integrar o rol de notícias, nada agradáveis, em âmbito internacional. Não é apenas isso, contudo. Entrou em cartaz e em exibição nos cinemas do Brasil o filme “O homem do Norte”, um épico do diretor norte-americano Robert Eggers, de que participam nomes consagrados em Hollywood, com 137 minutos de duração.

E o que conta a película? Ela se reporta à lenda escandinava de Amleth (quase o Hamlet), mas a narrativa se aproxima da tragédia inglesa. Também ali um nobre mata o irmão para assumir o trono e o príncipe-herdeiro tem de enfrentar o tio para, finalmente, receber a coroa que lhe cabia hereditariamente.

Há sempre um senão e, no caso específico, é a rainha, que – em Shakespeare é Gertrudes e no filme recebe o nome Gudún, mãe do candidato ao trono, como na tragédia inglesa. Não há a namorada de Hamlet – a suave Ofélia, que enlouquece diante dos fatos macabros a que assiste no seio da família real. Na sétima arte, entra em cena a escrava eslava Olga, que é uma espécie da filha de Polônio, na peça do bardo de Stratford-upon-Avon.

Quem quiser conhecer mais deveria ler o meu livro, que lamentavelmente está esgotado e assistir ao filme, que, no entanto, é muito mais cruel que a peça. Em ambos os casos, os mais interessados ou curiosos perguntam: Teria existido o príncipe de fato ou se trata de uma criação dos autores e fruto da imaginação dos povos nórdicos? Enfim, o que é história e o que é estória?

Os antigos pesquisadores aceitavam, no caso de Shakespeare, que os traços gerais da narração seriam verdadeiros, a que se acresceram pormenores pelas novas gerações. Foi o que aconteceu na Universidade do Estado da Bahia, como fiquei sabendo em Revista Eletrônica. Shakespeare nunca é esquecido e razões há, é claro.
De todo modo, porém, um conto de vingança e ódio.

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