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Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Recebendo o Camões

Publicado em 02/01/2024 às 06:00.

Ao receber o Prêmio Camões, no findar de 2022, o intelectual mineiro Silviano Santiago legou-nos um precioso documento que merece ser lido, em primeiro lugar, pelo que significa para toda a comunidade de língua portuguesa, especificamente pelos brasileiros. Ele começa por descrever o ambiente produzido pela pandemia. No nosso caso específico, ressaltou: “o silêncio e o caos tomaram conta das famílias e das ruas que, no Brasil, padecem o descaso administrativo do Ministério da Saúde e do próprio governo nacional. Não há clima digno para ambientar e encorajar o fluxo da autoestima e da alegria sentido pelo cidadão brasileiro contemplado”.

Adiante: “No Brasil, o sofrimento anônimo e comunitário não foi diferente do sentimento íntimo, talvez tenha sido até mais intenso. Não há que nomear todos os desastres mortais por que passaram nossos entes queridos. Os acontecimentos ainda são recentes e queimam nossa sensibilidade fragilizada”.

O discurso de agradecimento pelo prêmio tem de ser mais do que lido. Tem de ser pensado, sentido em toda sua extensão e profundidade. Contém ainda uma palavra de confiança quanto ao futuro depois das águas turvas que o Brasil teve de enfrentar. Mas Silviano preconiza: “A literatura brasileira que eu expressei e continuo a expressar em língua portuguesa está a ponto de passar por abalos sísmicos que serão duradouros. Foram desejados e esperados. Agora são exigidos e são concretizados”. E, mais à frente, realça: “Não me pergunto, afirmo que é chegado o momento de liberar a literatura brasileira às águas amazônicas e as atlânticas e africanas e a todas as correntes diaspóricas”.

Mais ainda: “Lanço os olhos para a infinita imensidade desse agora que vivo e  vivemos e dedico o Prêmio Camões a Mário de Andrade, meu mestre. 

Entretanto, Silviano, que acaba de lançar seu novo livro “Grafias da Vida - A Morte”, pela Companhia das Letras, não esquece os que lhe passaram pelos caminhos da existência: “Importante é que eu destaque, não os escritores geniais, mas dois intelectuais magníficos, hoje quase anônimos, o Jacques do Prado Brandão em Minas Gerais e o Alexandre Eulálio no Rio de Janeiro, que se preocuparam com seu  futuro a que chama de mentores e não mestres, porque “os mestres se voltam para o passado.  Eles me equilibram pela desarmonia. 

Em resumo, o premiado escritor, membro da Academia Mineira de Letras desde 2021, o mineiro de Formiga, sente poder dizer agora: “E se agora percorro minha obra já numerosa e que representa uma vida trabalhada, não me vejo uma só vez pegar a máscara do tempo e esbofeteá-la como ela merece. Quando muito lhe fiz de longe umas caretas. Mas isto, a mim, não me satisfaz”.

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