Têm sido insistentes as tentativas de alguns políticos para demonstrar de maneira indiscutível que o Brasil permanece país bananeiro. E, aproximando-se o período eleitoral, parece que essa maneira de encarar os problemas imensos da administração pública, perdurará e se ampliará. A experiência, que me parece desprezível, ganhará espaço e força nos meios de comunicação, como se fora nosso território uma espécie de Hiroshima ou Nagasaki.
O repertório de desentendimentos é extenso, mas está sempre incompleto. O fato lembra abril de 2023, quando o Senado aprovou uma sanção de repúdio ao assessor especial para Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro, Felipe Martins. Este fez um gesto considerado ofensivo, com o dedo e a mão, ao saudar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
O voto de repúdio foi feito após o assessor de Bolsonaro formar um círculo com o polegar unido ao indicador, deixando os outros três dedos esticados. O vídeo viralizou nas redes sociais e causou críticas. Senadores associaram a atitude ao símbolo de supremacistas brancos, já que o gesto representaria as letras WP (White Power).
Outros classificaram o gesto como obsceno. Martins negou as duas versões e disse que estava apenas ajeitando o paletó. A Polícia Legislativa do Senado foi acionada para investigar o ato.
No início da semana, Araújo entregou o cargo após atacar a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO). O Senado queria ouvir agora o novo chanceler sobre a política externa brasileira.
O gesto foi aparentemente repetido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, como aparece em foto de jornais e revistas.
Inegavelmente, a polarização política chegou ao seu nível mais alto. As pessoas têm de ser suficientemente explícitas no que dizem, cuidadosas nos vocábulos que em empregam, nos gestos que fazem, para evitar más interpretações. Dificilmente, em nossa história, se encontrará momento tão delicado para manifestação de sentimento, pensamento ou posição. Todo cuidado é pouco. Os romanos já o sabiam e advertiam: “Cave canem”.