Causou surpresa a informação relativa à desativação (se é que poderia ser empregado o termo) da Imprensa Oficial, nos termos de Projeto de Lei encaminhado à Assembleia Legislativa. Porque esse organismo do governo de Minas é mais do que um patrimônio físico, porque histórico e cultural, que não deveria simplesmente ser descartável ou transferível para incorporação à administração direta.
A Imprensa Oficial é uma longa e bela crônica, que vem de um tempo de mudanças, como aquele que decorreu da atmosfera política e cultural em fim do século 19, quando as publicações oficiais brasileiras ainda eram feitas em gráficas portuguesas, ou nas do Rio de Janeiro, capital nacional, se devidamente licenciadas.
Coincidentemente, o primeiro projeto efetivo para criação de uma tipografia oficial em Minas, para formalizar os atos do poder público da província, ocorreu em 1822, o ano da Independência.
Adquiriu-se modesto equipamento no Rio de Janeiro e o próprio autor da ideia, o major Silva Pinto, se tornou principal impressor e exerceu a função por vários anos.
Em 1892, quando se comemorou o centenário do sacrifício de Tiradentes, a publicação se tornou regular, porque antes houve problemas técnicos, impondo a contratação de funcionários na Imprensa Oficial do Rio de Janeiro.
Mas não vamos narrar essa fase heroica. A verdade é que, com a mudança da sede do governo para Belo Horizonte, a Imprensa também veio, sendo impresso o primeiro número do órgão oficial em 12 de junho de 1898, agilizando a própria atividade administrativa.
Grandes nomes da política e das letras brasileiras passaram pelo prédio em estilo neoclássico da avenida Augusto de Lima, ponto de referência na vida mineira. Por lá passaram Juscelino, futuro presidente da República, clínico do Posto Médico ali instalado, e Alkmim, companheiro de muitas lutas, e figuras de expressão como Drummond, Eduardo Frieiro, Murilo Rubião, criador do Suplemento Literário, além de diretores que honram as tradições da Casa, como Vivaldi Moreira, presidente perpétuo da Academia Mineira de Letras, José Bento Teixeira de Salles, José Maria Couto Moreira, Paulo Campos Guimarães, Guimarães Alves, e outros cujos nomes são lembrados com respeito e reverência.
Autores notáveis começaram ali, inclusive o poeta itabirano, que nutria profunda admiração pela Casa que o acolhera. Suas crônicas, ali inseridas, descrevem a evolução de Belo Horizonte desde a época da poeirópolis. Seus textos merecem ser lidos.
O que chama a atenção é que a Imprensa Oficial presentemente também transformada em centro cultural, com seu memorial muito bem instalado (sem despesas para o poder público), é uma autarquia não deficitária, o que lhe dá foros de independência econômica.
Não se compreende, portanto, a posição adotada sobre o futuro de um organismo com tamanha história e vitalidade. Pelo contrário, até se recomendariam recursos específicos para aumentar-lhe a rentabilidade e a produção gráfica, artística, literária e administrativa, que pode oferecer à sociedade mineira.