Dra. LiubianaDra. Liubiana é PhD em Neuropediatria, com doutorado-S na Harvard Medical School. Professora de Medicina da UFMG, neurocientista e palestrante

Ao invés de julgar seu filho, pare, observe cada situação e compreenda

Descobrindo os sentimentos por trás dos comportamentos

Publicado em 05/10/2023 às 06:00.

Na nossa jornada como pais e mães, muitas vezes nos deparamos com desafios que nos fazem questionar o porquê das ações de nossos filhos. É mais fácil julgar esses pequenos seres com nossa perspectiva adulta, mas é fundamental lembrar que, para compreendê-los e guiá-los em direção ao sucesso, precisamos nos conectar verdadeiramente com eles como seres humanos únicos e em desenvolvimento.

Vamos pensar em algumas situações que todos já vivenciaram. A criança que se esconde quando alguém diferente chega perto recebe frequentemente o rótulo de "mal-educada", sem que consideremos a vergonha que ela possa estar sentindo. É crucial cultivar a curiosidade e a compreensão profunda sobre quem são nossos filhos, em vez de simplesmente julgá-los. Cada criança é um indivíduo singular, e é importante reconhecer isso.

Uma criança que pega uma colher de plástico na mesa e, brincando feliz, acaba batendo na cabeça da mãe, pode gerar uma reação imediata. O sorriso de antes da mãe instantaneamente se transforma em uma careta de dor e também acontece com a filha a mesma mudança em sua expressão facial. No entanto, ela não tinha a intenção de machucar alguém; ela estava apenas aprendendo a coordenar seus movimentos e a compreender que a brincadeira precisa ser bem planejada.


Internamente, a primeira reação dos pais é sentir vontade de brigar ou gritar, mas, compreendendo que o cérebro da criança ainda está em desenvolvimento, é possível perceber o quanto a criança ficou frustrada e preocupada com o dodói da mamãe e que essa não era a sua intenção. A resposta mais adequada é parar, observar como o cérebro da criança está percebendo o ambiente e pedir para ela ajudar a melhorar, explicar que vai ficar tudo bem e que temos nossas vulnerabilidades, mas que deveria ter mais cuidado ao brincar com objetos próximos de outras pessoas. Essa situação se transforma então em uma valiosa oportunidade para aprendizado mútuo de autorresponsabilidade, controle emocional, empatia e afeto.

Em casos similares, pais exaustos ou estressados podem reagir com raiva, punição ou repreensão. No entanto, a criança não compreenderá essas reações, já que sua atitude era inocente e a sua intenção de coração não era de prejudicar ninguém.

Pesquisas científicas revelam que o cérebro da criança ativa as mesmas regiões do cérebro dos pais que estão presentes no momento, incluindo os neurônios-espelho, que fazem com que a criança replique o comportamento do adulto, seja ele positivo ou negativo.

Portanto, com base na neurociência com afeto, é essencial que os pais se esforcem para compreender os motivos por trás de cada comportamento antes de julgar seus filhos. Devemos parar, observar e entender, pois as crianças ainda estão desenvolvendo a habilidade de compreender e expressar suas próprias emoções devido à imaturidade de certas áreas do cérebro.

Não é necessário se cobrar para ser um super pai ou super mãe e nunca errar. Ser pai ou mãe não exige o controle absoluto das reações ou a eliminação das próprias falhas.


Porém, se esforçar para reagir com calma e abertura para o acolhimento ajuda o cérebro da criança a se desenvolver com modelos de equilíbrio emocional e escolha de respostas inteligentes, em vez de agir impulsivamente sob a influência do cérebro primitivo.

A neurociência nos ensina que um dos principais determinantes da felicidade, desenvolvimento emocional e intelectual, bem como sucesso acadêmico e profissional, é proporcionar experiências afetivas de cuidado, compreensão e incentivo desde a infância.

O ambiente molda a genética, e, portanto, é nosso papel como pais, familiares e adultos cuidadores investir em atitudes que façam as crianças se sentirem seguras, compreendidas, acolhidas e incentivadas a se tornarem versões cada vez melhores de si mesmas. Esse é o caminho para criar seres humanos bem-sucedidos em suas vidas emocionais e profissionais. Afinal, conectar-se verdadeiramente com nossos filhos é o melhor presente que podemos oferecer a eles.

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