Dra. LiubianaDra. Liubiana é PhD em Neuropediatria, com doutorado-S na Harvard Medical School. Professora de Medicina da UFMG, neurocientista e palestrante

Desconectados na era da conexão: a geração ilusoriamente “conectada"

Publicado em 15/06/2023 às 06:00.

Dra. Liubiana

Hoje em dia, onde a tecnologia está cada vez mais presente em nossas vidas, é comum ouvir que estamos “mais conectados do que nunca”. No entanto, há uma geração que parece estar perdida em sua própria ilusão de conexão.

A geração atual de nativos digitais nasceu e cresceu em meio a avanços tecnológicos que lhes proporcionaram acesso fácil à dispositivos móveis, à internet e às redes sociais. Passam horas navegando em seus smartphones, mergulhados em um mundo virtual que supostamente os mantêm conectados. Contudo, essa conexão online muitas vezes é superficial e vazia. Perde-se o acesso às expressões faciais, linguagem corporal e entonação vocal, tão relevantes para transmitir emoções e intenções. Esses sinais não são capturados nas interações digitais, o que limita a profundidade e a qualidade das conexões que podemos estabelecer.

A falta de interações sociais reais e o excesso de tempo gasto nas redes sociais também podem levar a isolamento social e solidão, que estão associados a problemas de saúde como depressão, ansiedade e doenças cardiovasculares


Muitos dessa geração se contentam com curtidas, compartilhamentos e comentários virtuais. Eles podem ter milhares de seguidores online, porém quantos amigos verdadeiros têm na vida real? Eles estão constantemente verificando suas notificações, preocupados com o próximo post viral, ou buscando a validação de estranhos em busca de aprovação e reconhecimento. A comunicação face a face está sendo substituída por emojis e abreviações.

A Neurociência tem evidências que respaldam a importância das interações sociais profundas e significativas na formação e no funcionamento saudável do cérebro. Estudos demonstram que conexões interpessoais de qualidade contribuem para o bem-estar emocional, o desenvolvimento cognitivo e a saúde mental.

Quando nos envolvemos em interações sociais reais, nosso cérebro experimenta a liberação de neurotransmissores, como a ocitocina, o que está associada a sentimentos de confiança, empatia e satisfação.

Por outro lado, a necessidade de gratificação instantânea e estímulos constantes ativa circuitos dopaminérgicos do prazer no cérebro que, em excesso, podem prejudicar a capacidade de aprender, de concentrar-se e de lidar com os desafios do mundo real.

A falta de interações sociais reais e o excesso de tempo gasto nas redes sociais também podem levar a isolamento social e solidão, os quais, segundos estudos científicos, estão associados a problemas de saúde, como depressão, ansiedade e doenças cardiovasculares.

Ao compreender a importância das conexões sociais para a saúde cerebral e emocional, podemos incentivar essa geração a buscar equilíbrio no uso da tecnologia, relacionamentos significativos, a participar de atividades offline e a desenvolver habilidades de comunicação interpessoal. E, para tal, os adultos devem dar o seu próprio exemplo.

A tecnologia oferece inúmeras oportunidades e benefícios. Ela, em si, não é o problema e sim o seu uso inadequado.

Portanto, conectar-se com afeto e empatia é a melhor solução. As nossas crianças e adolescentes agradecem!

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