Dra. LiubianaDra. Liubiana é PhD em Neuropediatria, com doutorado-S na Harvard Medical School. Professora de Medicina da UFMG, neurocientista e palestrante

Um caso de autismo a cada 36 crianças no mesmo período que falece o 'Caso 1' do Autismo

Publicado em 29/06/2023 às 06:00.

O "Caso 1" de diagnóstico de autismo, Donald Triplett, faleceu do dia 15/06 em sua residência na cidade de Forest, localizada no centro do Mississippi. Ele recebeu o diagnóstico oficial de autismo em 1942 pelo Dr.  Léo Kanner. Aos 89 anos, Triplett deixou um legado significativo confirmando que pessoas autistas podem ter sucesso na vida.

Deste primeiro caso até hoje, diante de tantos avanços em pesquisas e tecnologias, o que tem mudado no autismo? Uma das respostas é a prevalência.

Uma pesquisa recente divulgada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) revelou que a prevalência do TEA - Transtorno do Espectro Autista em crianças nos Estados Unidos aumentou e estima-se que uma em cada 36 crianças de 8 anos tenha autismo. Os números indicam que a condição afeta aproximadamente 4% dos meninos e 1% das meninas. Não temos dados de pesquisas semelhantes a essa no Brasil até o momento.

É importante ressaltar que o aumento na prevalência não necessariamente significa que o autismo tenha se tornado mais comum entre as crianças. Por um lado, a ciência descreve que existem fatores relacionados ao risco de TEA além da tendência genética, como a idade avançada do pai e da mãe ao engravidar e o uso de drogas na gestação. Por outro lado, destaca-se que a maior conscientização da população, a triagem adequada e a melhoria na acurácia diagnóstica contribuíram para o resultado de 1:36.

Nos EUA os dados de cada criança que nasce são registrados eletronicamente e todos passam pela triagem de autismo nos primeiros anos de vida. Contudo, a média de idade para o diagnóstico de TEA no país é aos 3 anos, considerada tardia.

Aproximando esses dados para a realidade brasileira, compreendemos que temos muitas crianças para cuidar, porém em um cenário totalmente diferente. Embora a Sociedade Brasileira de Pediatria recomende que toda criança deva realizar a triagem para TEA e que exista a lei 13.438/2017 que obriga a avaliação formal do desenvolvimento nos primeiros anos de vida, a realidade é que não estamos identificando os grupos de risco a tempo.  A Neurociência comprova que é necessário aproveitar o período ótimo de neuroplasticidade do cérebro e, portanto, quanto mais precoce é iniciado o tratamento, melhores são os resultados a curto, médio e longo prazo.

O desafio atual é como ampliar a identificação e os conhecimentos acerca do Autismo através da implementação de políticas de saúde e de educação no Brasil de forma prioritária.  Para isto, profissionais capacitados são essenciais para evitar o excesso de diagnósticos equivocados e hipermedicalização bem como  para garantir o diagnóstico precoce e tratamentos de excelência no autismo.

Desejamos melhorar os serviços de acompanhamento de saúde, de educação e de inclusão de todas as crianças que têm diagnóstico de TEA. Com Neurociência, afeto e dedicação alcançaremos uma trajetória de qualidade garantida para cada autista nas fases da vida e vamos ter histórias de mais e mais sucesso que aquela do primeiro caso de autismo, o Donald Triplett. As nossas crianças agradecem!

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