Bruno Farnese*
Receber o diagnóstico de um nódulo renal costuma provocar medo e incerteza. Em muitos casos, percebe-se que a reação imediata do paciente é pensar na cirurgia como a única saída. No entanto, com os avanços nos exames por imagem e nas técnicas minimamente invasivas, é possível adotar abordagens menos traumáticas e eficazes — como a biópsia renal percutânea guiada por ultrassom.
O câncer de rim é uma doença silenciosa que, embora rara, está entre os 13 tipos mais incidentes no Brasil. São cerca de 12 mil novos casos diagnosticados por ano, representando aproximadamente 2% a 3% de todos os tumores em adultos. A doença afeta, sobretudo, pessoas entre 50 e 70 anos, sendo menos comum em indivíduos com menos de 45 anos. No entanto, pode ocorrer em adultos jovens e até em adolescentes, com casos registrados inclusive em pacientes jovens que evoluíram a óbito, o que reforça a importância do diagnóstico precoce e do tratamento em fases iniciais. Entre 2019 e 2021, o câncer renal foi responsável por mais de 10 mil mortes no país, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
É importante destacar que nem todo nódulo no rim é maligno, ou seja, nem todos são câncer e precisam de tratamento. A medicina personalizada, que considera o histórico e as condições clínicas de cada paciente, depende de diagnósticos precisos para definir a melhor conduta. Nesse cenário, a biópsia renal se mostra uma ferramenta de grande relevância, pois é um procedimento seguro, sem cortes, feito em regime de hospital dia, onde o paciente recebe alta no mesmo dia do procedimento e com recuperação rápida.
Além disso, o resultado da biópsia pode estar disponível em até 24 horas úteis, o que acelera a tomada de decisão médica e oferece mais tranquilidade ao paciente. Em casos nos quais há doenças associadas, como insuficiência cardíaca, doença renal crônica ou quando o paciente possui apenas um rim funcional, a cirurgia pode representar um risco elevado. Por isso, operar sem um diagnóstico confirmado pode trazer mais prejuízos do que benefícios em muitos casos.
A biópsia também é fundamental quando o tratamento não envolve cirurgia — como nas ablações por radiofrequência ou micro-ondas, e nas terapias com imunomoduladores. Com base nesse resultado, a equipe médica pode agir com mais segurança, oferecendo alternativas modernas e menos invasivas.
Conscientizar sobre a importância da biópsia guiada por imagem no diagnóstico do câncer de rim é uma forma de ampliar o acesso a cuidados mais eficazes e humanos. Mais do que tecnologia, trata-se de sensibilidade médica: de respeitar o tempo, o corpo e o contexto de cada paciente. A medicina evoluiu — e, com ela, a maneira de enfrentar esse tipo de câncer também precisa evoluir.
*Ultrassonografista e especialista em biópsias