Junia Barreto*
No próximo 5 de junho, o mundo se volta mais uma vez para o desafio urgente da preservação ambiental. O tema do Dia Mundial do Meio Ambiente em 2025 — Combater a poluição plástica — é apenas um dos muitos alertas sobre a gravidade da crise ecológica global. No entanto, em meio às campanhas de conscientização e grandes promessas, é preciso lembrar que a sustentabilidade se constrói também nas frentes mais invisíveis da sociedade: aquelas onde o trabalho humano é explorado e os recursos naturais, destruídos. E é exatamente nessas frentes que atua a Auditoria-Fiscal do Trabalho.
Falar de meio ambiente, hoje, é falar de trabalho decente. As fiscalizações realizadas pelo nosso corpo de Auditores-Fiscais têm revelado uma relação direta entre a degradação ambiental e as violações de direitos humanos. Não é coincidência que tantos casos de trabalho análogo à escravidão sejam encontrados em regiões de desmatamento ilegal, em carvoarias clandestinas ou em lavouras onde não há qualquer preocupação com a regeneração do solo ou com a saúde dos trabalhadores. Somente em 2023, mais de 2.500 pessoas foram resgatadas dessas condições no Brasil — muitas delas em áreas de destruição ambiental sistemática.
Minas Gerais, infelizmente, é um retrato nítido desse cenário. Nossa experiência em campo mostra que onde há devastação ambiental, frequentemente há também precarização extrema do trabalho. A produção florestal irregular, a mineração predatória e as carvoarias ilegais continuam sendo alvos recorrentes de autuações, e nelas encontramos trabalhadores exaustos, sem equipamentos de proteção, sem acesso a água potável ou alimentação, vivendo em barracos no meio do mato.
Diante disso, o papel da Auditoria-Fiscal do Trabalho vai muito além da fiscalização de carteiras assinadas. Nosso trabalho é uma ferramenta estratégica de enfrentamento à exploração ambiental e humana. Quando interrompemos cadeias produtivas baseadas no trabalho escravo, estamos também cortando o incentivo econômico que sustenta o desmatamento e a contaminação de rios e solos.
Mas, para isso, é essencial que haja estrutura. A Delegacia Sindical do Sinait em Minas Gerais vem alertando há anos para a necessidade de reforçar equipes, garantir segurança nas operações e integrar ações com órgãos como o Ibama, o Ministério Público do Trabalho e as Defensorias Públicas. Sem políticas públicas consistentes e equipes bem preparadas, não há fiscalização eficaz. E sem fiscalização eficaz, o ciclo de destruição se perpetua.
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, a mensagem que deixamos é clara: a sustentabilidade não se faz apenas com tecnologias verdes ou compromissos diplomáticos. Ela começa com a garantia de que nenhum trabalhador será usado como instrumento da destruição ambiental. Começa com a valorização da Auditoria-Fiscal do Trabalho e do combate contínuo à exploração em todas as suas formas.
A luta pela sustentabilidade ambiental também passa pela valorização do trabalho decente. Não há desenvolvimento sustentável com trabalhadores explorados, salários indignos ou ausência de direitos básicos. A Auditoria-Fiscal do Trabalho atua justamente onde os direitos ambientais e humanos se cruzam — e é nesse cruzamento que se decide o futuro do planeta. Não há desenvolvimento sustentável sem justiça social. E não há justiça social onde o trabalho humano é descartável.
*Auditor-Fiscal do Trabalho e diretora de planejamento e administração da Delegacia Sindical do Sinait em Minas Gerais (DS-MG/Sinait).