A diferença entre saber o que não pode e poder o que não sabe

Publicado em 30/04/2022 às 06:01.

Mauro Condé*

“A diferença está no tempo – o velho sabe tudo o que não pode e o jovem pode tudo o que não sabe” – José Saramago.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento usando como meio de transporte excelentes curtas-metragens.

Eles me levaram para São Paulo, onde fui recebido por Rosana Urbes, a quem fui logo pedindo:

Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.

- Descubra o melhor caminho para partilhar com o outro o que existe de mais sutil e belo no seu mundo interior.

Rosana é a criadora de “Guida”, película vencedora do festival Anima Mundi.

No Youtube, em 11 minutos, vemos a história de uma senhora doce e incrível que nos ensina, entre outras coisas, que envelhecer não é morrer.

Solitária, todos os dias Guida acorda, briga com o despertador e depois, antes de sair, encara o mesmo espelho, velha testemunha da passagem do tempo de sua vida.

Pega um ônibus e desembarca num escritório lotado de papéis por todos os lados.

Cumpre sempre a mesma rotina, empilha caixas, digita, imprime e carimba documentos.

À noite, solitária e cansada, costuma dormir no sofá com a TV ligada.

Faz isto de maneira igual todos os dias, até ser surpreendida por seus colegas de trabalho com uma festa inesperada em homenagem à sua aposentadoria, após 30 anos de trabalho.

Depois dos aplausos, cumprimentos e um lindo bolo, Guida curte seu último dia de serviço.

Ela se permite sentar para ler um jornal impresso enquanto toma uma xícara de café.

Por obra do acaso, a xícara deixa a marca de um círculo bem em cima de um anúncio para uma vaga que chama a sua atenção.

Mesmo sem precisar, ela entende isto como um sinal da oportunidade batendo na porta dos seus sonhos adormecidos.

Pela primeira vez, cria coragem e se arrisca, se inscreve e é aceita para um novo trabalho como modelo vivo num ateliê de pintura.

Nos dias seguintes, Guida se sente rejuvenescida e decide ser diferente e usar o que aprendeu com a idade para se aceitar mais do jeito que é, sem se preocupar com o que os outros pensam.

E simplesmente se deixa pintar, partilhando o que tem de mais bonito dentro de si.

O que faz com que cada artista produza um quadro diferente dela, mas todos tendo em comum o reflexo da juventude de sua alma.

Sua grande lição é que a vida nada mais é do que uma sucessão diária de rascunhos que fazemos na tentativa de significar nossa existência neste mundo.

*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco

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