Mauro Condé*
“A diferença está no tempo – o velho sabe tudo o que não pode e o jovem pode tudo o que não sabe” – José Saramago.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento usando como meio de transporte excelentes curtas-metragens.
Eles me levaram para São Paulo, onde fui recebido por Rosana Urbes, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
- Descubra o melhor caminho para partilhar com o outro o que existe de mais sutil e belo no seu mundo interior.
Rosana é a criadora de “Guida”, película vencedora do festival Anima Mundi.
No Youtube, em 11 minutos, vemos a história de uma senhora doce e incrível que nos ensina, entre outras coisas, que envelhecer não é morrer.
Solitária, todos os dias Guida acorda, briga com o despertador e depois, antes de sair, encara o mesmo espelho, velha testemunha da passagem do tempo de sua vida.
Pega um ônibus e desembarca num escritório lotado de papéis por todos os lados.
Cumpre sempre a mesma rotina, empilha caixas, digita, imprime e carimba documentos.
À noite, solitária e cansada, costuma dormir no sofá com a TV ligada.
Faz isto de maneira igual todos os dias, até ser surpreendida por seus colegas de trabalho com uma festa inesperada em homenagem à sua aposentadoria, após 30 anos de trabalho.
Depois dos aplausos, cumprimentos e um lindo bolo, Guida curte seu último dia de serviço.
Ela se permite sentar para ler um jornal impresso enquanto toma uma xícara de café.
Por obra do acaso, a xícara deixa a marca de um círculo bem em cima de um anúncio para uma vaga que chama a sua atenção.
Mesmo sem precisar, ela entende isto como um sinal da oportunidade batendo na porta dos seus sonhos adormecidos.
Pela primeira vez, cria coragem e se arrisca, se inscreve e é aceita para um novo trabalho como modelo vivo num ateliê de pintura.
Nos dias seguintes, Guida se sente rejuvenescida e decide ser diferente e usar o que aprendeu com a idade para se aceitar mais do jeito que é, sem se preocupar com o que os outros pensam.
E simplesmente se deixa pintar, partilhando o que tem de mais bonito dentro de si.
O que faz com que cada artista produza um quadro diferente dela, mas todos tendo em comum o reflexo da juventude de sua alma.
Sua grande lição é que a vida nada mais é do que uma sucessão diária de rascunhos que fazemos na tentativa de significar nossa existência neste mundo.
*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco