Mauro Condé*
“Descanse em Pás ”... Faixa confeccionada por coveiros, como homenagem aos mortos que eles enterram, em um cemitério luso.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes filmes disponíveis no streaming de filmes do Cine Belas Artes À La Carte.
Eles me levaram para Djibouti, na África, onde fui recebido pelo cineasta somali-finlandês Khadar Ahmed, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
- Nunca subestime o poder curador do amor diante das maiores crises e dificuldades da vida.
Khadar é o diretor do premiado filme “A Mulher do Coveiro”.
Sua história começa com o coveiro Guled, totalmente isolado, descalço, com os pés machucados e cheios de bolhas.
Ele utiliza o cabo de uma pá como apoio para a travessia de um deserto interminável, cercado somente de areia por todos os lados.
Dias depois ele é visto voltando pelo mesmo caminho puxando com muita dificuldade um rebanho de cabras, momento em que aparece uma caminhonete lotada de capangas musculosos e bravos que partem para cima dele.
Quer saber como ele se envolve nesta enrascada?
Guled é um homem muito pobre e humilde que mora numa favela próxima a um lixão e tem uma esposa que ele ama muito e um filho adolescente rebelde.
Para sustentar a família, Guled ganha uma mixaria para diariamente ficar correndo atrás de ambulâncias e carros funerários até o caminho do único hospital da cidade.
Tenta, a todo custo, ganhar a corrida contra a concorrência e com sua velocidade ser o primeiro a retirar corpos para serem enterrados.
Pela lenda do seu país, dá azar não enterrar os mortos, logo que eles falecem.
Um dia, Guled chega em casa cansado do trabalho e pega a sua esposa se contorcendo em dores.
Ele então a coloca dentro de um carrinho de mão e corre com ela para o hospital.
Lá, ouve da médica que sua amada Nasra precisa de uma cirurgia urgente por causa de uma doença renal muito grave.
Guled, desprovido de qualquer recurso, entra em pânico quando descobre que a única maneira da sua esposa ser operada é pagando, de forma antecipada, cerca de 5 mil dólares, um dinheiro que ele nunca conseguiu juntar em toda a sua vida.
E acaba caindo na emboscada do deserto, quando acredita ter ido atrás da única salvação para esposa.
Filmaço que, no final, coloca água no cantinho dos olhos e um sorriso no rosto.
* Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco