Mauro Condé*
O último dos dândis portenhos tem o que pode se chamar de vida perfeita.
Ele tem o mundo literalmente aos seus pés, até que um acontecimento inesperado abre um buraco no chão em que ele pisa ...
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes séries disponíveis no streaming da Disney+.
Elas me levaram para Buenos Aires, onde fui recebido por Manuel Tamayo Prats, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
- "Se permita viver e não encha o saco!”
Manuel é o protagonista da excelente e curta série argentina “O Faz Nada”, que acabo de ver e recomendo.
Interpretado por Luis Brandoni, Manuel é um intelectual das antigas.
Ele tem o perfil do mais culto, elegante e refinado homem do mundo que, porém, vive limitado pela escassez de recursos, principalmente pela falta de dinheiro para pagar as contas.
Sua salvação é Celsa, uma contemporânea e espécie de governanta e empregada que além de viver lhe emprestando algum trocado, gerencia toda a vida do patrão.
Por mais de 40 anos ela o tolera ... para ele lava, passa, cozinha, atua como despachante para assuntos diversos e até dirige, para cima e para baixo, o carro deste famoso escritor e crítico gastronômico, já que ele sofre de falta de jeito para atividades não intelectuais desde criança.
Celsa é uma verdadeira faz tudo na vida desse bon vivant, tida por ele como alguém insubstituível, uma sumidade num degrau acima do Papa, que por acaso, também é argentino.
Só que, de repente, ela resolve morrer sem aviso prévio, naquele que se transforma, literalmente, no dia do fim do mundo para Manuel.
Mas, vida que segue... e o destino faz bater em sua porta uma jovem de 20 anos paraguaia, totalmente desesperada a procura de emprego.
Superlativo e rigoroso, ele a reprova no teste de seleção, porém Maria se recusa a não ser contratada e laça seu novo chefe pelo cheiro da comida que prepara no dia de sua despedida.
Além de superar sua antecessora, a jovem Maria se torna a maior conselheira do velho Manuel e o inspira a mudar seu estilo rabugento para garantir saldos líquidos em suas relações, a fim de ter quem se voluntarie a segurar as oito alças do seu caixão no dia de sua partida.
* Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.