Autismo apresenta primeiros sinais através da visão

Publicado em 28/06/2025 às 06:00.

Ricardo Guimarães*

É possível observar cada vez mais crianças diagnosticadas com autismo. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, registrou uma média de diagnósticos de um a cada 110 crianças, em 2006, sendo que, atualmente, esse número é um para 36. As campanhas educativas são essenciais para conscientizar a população sobre essa condição, fomentando o debate em relação aos efeitos, que, inclusive, são perceptíveis, até mesmo através dos olhos. O método de rastreamento ocular, chamado de Eye Tracking, tem sido reconhecido como uma das alternativas para identificar o biomarcador precoce de autismo.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda tem fatores de origem desconhecidos, ligados à genética, sendo definido como um transtorno do neurodesenvolvimento da evolução atípica, causadora de alterações na capacidade de comunicação, interação e comportamentos, sinais bastante característicos.

Alguns dos principais sintomas são o atraso na linguagem; movimentos repetitivos; a pessoa não responder quando chamada; repetição de frases; falas sem sentido; comportamento rígido; isolamento social; exagero de interesses e a dificuldade para fazer contato visual, o que chama bastante atenção.

A dificuldade para olhar diretamente nos olhos é considerada um sinal inicial, podendo aparecer nos primeiros meses de vida. O motivo está diretamente ligado a uma ativação incomum no sistema subcortical do cérebro, área responsável por despertar a atração dos bebês por rostos familiares.

Devido a essa particularidade, os oftalmologistas querem entender mais sobre os efeitos, assim como formas de identificar a condição pelos olhos. A proposta aproveita os indícios, como a incapacidade de os bebês focarem o olhar no rosto de um interlocutor, mensurando com rastreamento para um diagnóstico importante com intervenções, antes que os sintomas sejam irreversíveis.

Outra hipótese foi levantada pelo neurologista Ruben Jure. Ele relacionou as alterações visuais no espectro com as disfunções no colículo superior, uma estrutura integradora dos estímulos visuais e que direciona o foco de atenção. As disfunções na estrutura culminam em sintomas visuais frequentes entre os portadores, como a sobrecarga sensorial, fotofobia, dificuldade para perceber movimentos e integração multissensorial alterada.

Vale recordar que o autismo não tem cura, porém, alguns de seus efeitos desconfortáveis podem ser tratados para melhor qualidade de vida. Os sintomas da ansiedade e hiperatividade são medicados, contudo, sempre com bastante cautela. Uma alternativa oftalmológica, considerada promissora e de baixo risco, está nos filtros espectrais, ideia defendida pelo grupo de pesquisa Whittaker et al.

Os filtros reduzem a sobrecarga visual, melhorando o conforto e, até mesmo, ampliando a capacidade de leitura e de expressões faciais, outra tribulação encontrada pelo grupo, comprometendo ainda mais a comunicação e interação com outras pessoas. Os filtros são usados em óculos ou lentes de contato, sendo definidos após uma análise minuciosa para identificar o tipo mais benéfico para cada um.

* Doutor, diretor do Lapan (Laboratório de Neurociências Aplicadas a Visão) 

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