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Como conversar com uma IA sem parecer um robô (ou: como ensinar um papagaio a responder direito)

Publicado em 05/11/2025 às 06:00.

Petrus Evangelista*

Todo mundo já falou com uma IA. Alguns juram que ela entende. Outros só querem que o ChatGPT responda direito, sem soar como quem preenche formulário do Detran.

Pois há uma receita simples pra isso e começa aceitando o óbvio: a máquina não entende nada.

Pense num papagaio educado que repete tudo que ouve. Fala bonito, cita Drummond, mas se você pergunta se gosta de feijão, trava. Conversar com IA é lidar com essa mistura de genialidade e vazio. A diferença é que ela pode te ajudar, se você souber pedir.

1. A persona: o especialista que nunca se irrita

Antes de digitar qualquer coisa, pense: quem você quer que a IA seja?

Ela pode atuar como professor paciente, consultor financeiro ou nerd do Excel. Diga isso.

“Fale como especialista em contas a pagar e receber, mestre no Excel”. Pronto, o papagaio veste terno e fala de planilhas com propriedade.

Definir a persona muda o foco, não o conhecimento da IA. É como escolher filtro de foto: o conteúdo é o mesmo, mas o clima muda.

Se você não define, ela escolhe, geralmente o “consultor corporativo tentando ser simpático”.

2. A tarefa: o mapa da conversa

A IA é boa em uma coisa: seguir instruções com fé cega.

Peça “escreva um artigo” e ela obedece, mas sem direção o resultado é genérico.

O truque é pensar como diretor de cinema: “luz baixa, plano fechado, suspense”.

No caso da IA: “explique como se eu tivesse 10 anos”, “dê 5 ideias práticas”, “traga exemplos reais”.

Quer ver a diferença?

Em vez de “me ajude com marketing”, tente:

“Crie três ideias de post para uma cafeteria local, tom descontraído, público jovem”.

A resposta muda completamente e faz sentido.

3. O contexto: o que ela não sabe, você conta

IAs vivem num eterno déjà-vu. Só conhecem o que leram até certo ponto.

Quer que comentem o jogo de ontem? Vão inventar o placar com a autoconfiança de tio de boteco.

Por isso, alimente o contexto.

Explique o cenário, o público, o objetivo. Pense nela como ator talentoso, mas perdido no roteiro:

“A história se passa em 2025, o público é brasileiro, o humor é leve”.

Quanto mais contexto, menos improviso ruim.

4. Clareza: o antídoto contra o delírio

A IA não erra por malícia, mas por convicção.

Prefere inventar uma resposta bonita a admitir que não sabe.

Então, seja claro:

“Responda apenas com dados confirmados”.

Ou o contrário: “Use imaginação e crie livremente”.

Ela não adivinha sua intenção. E se você não define, ela escolhe o caminho mais provável, quase nunca o que você queria.

Quanto mais preciso o pedido, mais surpreendente o resultado.

5. O tom: o tempero da conversa

Conversar com IA sem humor é como jantar com quem só fala de imposto de renda.

O tom transforma uma resposta técnica em diálogo humano.

Peça: “explique como comediante cansado”, “resuma em estilo de crônica” ou “use tom direto, mas respeitoso”.

Ao reescrever um e-mail delicado, o tom pode ser a diferença entre parecer grosso ou assertivo.

E sim, dá pra pedir isso: “tom formal e cordial”.

A empatia vem do tom — e é ela que faz o algoritmo soar quase humano.

6. O limite: onde a mágica acaba

Toda IA tem ponto cego. Pode citar Nietzsche e errar 7×8.

O segredo não é confiar cegamente, é colaborar.

Trate a IA como estagiário brilhante, mas sem noção de realidade: ajuda, mas precisa de supervisão.

Revise, ajuste, questione.

Ela não substitui seu raciocínio, amplia.

Usar IA não é terceirizar o pensamento; é conversar com uma lupa ligada.

7. A conversa: onde nasce o sentido

Falar com IA é menos pedir respostas e mais aprender a fazer perguntas.

É exercício de paciência, clareza e curiosidade.

Veja o resultado, peça ajustes, refine. Igual a um diálogo real, só que mais rápido e sem cheiro de café requentado.

No fim, essas máquinas só aprenderam com a gente.

E talvez o que mais revelem não seja o quanto são inteligentes, mas o quanto nós repetimos padrões.

Se a IA soa humana, talvez seja porque a gente é quem anda previsível demais. Que somos previsíveis.

Então, da próxima vez que abrir o chat, não pense em “usar uma ferramenta”. Pense em ensinar um papagaio a responder certo, com paciência, humor e um bom dicionário à mão.

Afinal, conversar com inteligência artificial é, ironicamente, o exercício mais humano que temos: tentar ser entendido.

*Gestor de Arquitetura, Dados e IA na TOTVS

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