Ângela Mathylde Soares*
Algumas pessoas possuem maior facilidade para aprender e, na verdade, parecem estar muito à frente do desenvolvimento de sua faixa etária. A denominação para grande parte desses indivíduos é superdotados, ou seja, apresentam uma capacidade mental, chamada de Quociente de Inteligência (QI), superior ao da maioria da população – mas mesmo sendo considerada uma grande vantagem, requer muito cuidado. A Mensa Brasil, sede nacional da organização internacional envolvendo superdotados, estima que 2% da população mundial se enquadre nessa realidade.
O estado de Minas Gerais é o 3° no ranking brasileiro com o maior número de pessoas com um QI considerado alto, apresentando 289 casos, atrás apenas de São Paulo (1.552) e do Rio de Janeiro (376). Para se ter uma ideia, a média de pontuação de um QI considerado normal é 100, sendo aqueles considerados altos, iguais ou superiores a 130.
Para saber o nível de QI, o indivíduo deve realizar um teste. A avaliação existe de diversas formas, sendo normalmente aplicada por psicólogos e especialistas, analisando as habilidades cognitivas e intelectuais. Os testes encontrados na internet não são considerados precisos.
Alguns sinais indicam aos pais que seus filhos possuem um QI considerado acima da média, sendo o principal a capacidade de aprender conteúdos sozinhos e com facilidade, diferentemente de outras crianças. Além disso, tendem a ser bastante curiosos, sempre perguntando o porquê das coisas, o que as torna também muito bem informadas. Apresentam ainda um vasto vocabulário, expressam opiniões muito bem e não se adaptam a rotinas e outras atividades consideradas repetitivas.
As crianças consideradas “gênios” têm tendência de, naturalmente, se envolverem com temas que mais as agradam de uma forma bastante natural. Entretanto, é essencial atenção dos responsáveis aos problemas que podem se originar dessa capacidade intelectual.
Afinal, existe uma propensão que essas pessoas possam sofrer mais com o perfeccionismo, uma necessidade excessiva de agir com perfeição e, infelizmente, não consigam lidar muito bem com os sentimentos causados por uma situação contrária às suas expectativas, como um eventual “fracasso”, o que também causa muito estresse. A cobrança pode ser direcionada até mesmo aos pais, outros membros da família e amigos próximos.
As escolas devem estar prontas para lidar com essa realidade. As crianças são, sim, espertinhas, porém as superdotadas são diferentes e precisam se sentir bem-vindas junto com as outras, acolhidas para expressar quem realmente são e não devem ter o potencial suprimido.
Por mais que sejam extremamente inteligentes, as crianças superdotadas ainda precisam agir conforme a idade. Os pais precisam saber dosar o interesse de explorar a capacidade dos pequenos com a realidade em que se encontram, de que, como crianças, precisam viver conforme as outras, brincando e se divertindo, sem avançar fases de desenvolvimento, preocupando-se com os estudos no momento certo, evitando minar as habilidades e o futuro.
* PHD em neurociências, psicanalista e psicopedagoga