Crianças superdotadas possuem grande inteligência, mas dificuldade para aceitar erros

Publicado em 15/07/2024 às 06:00.

Ângela Mathylde Soares*

Algumas pessoas possuem maior facilidade para aprender e, na verdade, parecem estar muito à frente do desenvolvimento de sua faixa etária. A denominação para grande parte desses indivíduos é superdotados, ou seja, apresentam uma capacidade mental, chamada de Quociente de Inteligência (QI), superior ao da maioria da população – mas mesmo sendo considerada uma grande vantagem,  requer muito cuidado. A Mensa Brasil, sede nacional da organização internacional envolvendo superdotados, estima que 2% da população mundial se enquadre nessa realidade. 

O estado de Minas Gerais é o 3° no ranking brasileiro com o maior número de pessoas com um QI considerado alto, apresentando 289 casos, atrás apenas de São Paulo (1.552) e do Rio de Janeiro (376). Para se ter uma ideia, a média de pontuação de um QI considerado normal é 100, sendo aqueles considerados altos, iguais ou superiores a 130.

Para saber o nível de QI, o indivíduo deve realizar um teste. A avaliação existe de diversas formas, sendo normalmente aplicada por psicólogos e especialistas, analisando as habilidades cognitivas e intelectuais. Os testes encontrados na internet não são considerados precisos.

A idade mais indicada é quando a criança está na fase de alfabetização, porém as primeiras avaliações podem ser feitas com 2 anos e 6 meses, verificando, ainda, a capacidade artística e coordenação motora. O teste também pode ser realizado na fase adulta, sendo o método chamado escala de inteligência Wechsler, o mais comum.

Alguns sinais indicam aos pais que seus filhos possuem um QI considerado acima da média, sendo o principal a capacidade de aprender conteúdos sozinhos e com facilidade, diferentemente de outras crianças. Além disso, tendem a ser bastante curiosos, sempre perguntando o porquê das coisas, o que as torna também muito bem informadas. Apresentam ainda um vasto vocabulário, expressam opiniões muito bem e não se adaptam a rotinas e outras atividades consideradas repetitivas.

As crianças consideradas “gênios” têm tendência de, naturalmente, se envolverem com temas que mais as agradam de uma forma bastante natural. Entretanto, é essencial atenção dos responsáveis aos problemas que podem se originar dessa capacidade intelectual.

Afinal, existe uma propensão que essas pessoas possam sofrer mais com o perfeccionismo, uma necessidade excessiva de agir com perfeição e, infelizmente, não consigam lidar muito bem com os sentimentos causados por uma situação contrária às suas expectativas, como um eventual “fracasso”, o que também causa muito estresse. A cobrança pode ser direcionada até mesmo aos pais, outros membros da família e amigos próximos. 

No entanto, é importante destacar que esse tipo de inflexibilidade não atinge a todos e, muitas vezes, está diretamente ligada à educação em casa. Pelo desconhecimento de como a mente dos superdotados funciona, muitos pais acreditam que essa habilidade envolve todas as áreas do conhecimento e forçam os filhos a sempre mostrarem excelência, mesmo que tenham mais interesse e facilidade em lidar com as regras gramaticais do português do que com os números das Exatas.

As escolas devem estar prontas para lidar com essa realidade. As crianças são, sim, espertinhas, porém as superdotadas são diferentes e precisam se sentir bem-vindas junto com as outras, acolhidas para expressar quem realmente são e não devem ter o potencial suprimido. 

Por mais que sejam extremamente inteligentes, as crianças superdotadas ainda precisam agir conforme a idade. Os pais precisam saber dosar o interesse de explorar a capacidade dos pequenos com a realidade em que se encontram, de que, como crianças, precisam viver conforme as outras, brincando e se divertindo, sem avançar fases de desenvolvimento, preocupando-se com os estudos no momento certo, evitando minar as habilidades e o futuro.

* PHD em neurociências, psicanalista e psicopedagoga

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