Aristoteles Atheniense*
Na política, também, há coincidências. O apuro vivido pelo governo de Donald Trump guarda afinidade com o que atingiu Michel Temer.
Após seguidas críticas por parte da oposição e dos órgãos de imprensa mais poderosos dos Estados Unidos, Trump foi acusado pelo “The New York Times” de haver afastado o ex-diretor do FBI, James Comey, com o propósito de conter as investigações sobre as relações de seu conselheiro de Segurança Nacional com o governo russo.
No Brasil, o presidente Temer foi acusado pelo jornal “O Globo” de ter autorizado o empresário Joesley Batista, da JBS, a comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, mediante pagamento mensal à sua família.
Em ambas as hipóteses, o remédio legal sugerido foi o impeachment. Enquanto Temer insiste numa investigação “plena e muito rápida”, Trump considera-se alvo da “maior caça às bruxas”.
Em Brasília, já foram suspensas as reformas em andamento no Congresso, cuja aprovação Temer reputava decisiva para o êxito de sua gestão. Alguns titulares da base aliada se comprometeram a aguardar o desate da crise institucional, antes de deixarem os ministérios que ocupam.
A empresa JBS responde a sete inquéritos na Operação Lava Jato, inclusive no escândalo da “Carne Fraca”. Nos governos Lula e Dilma, obteve empréstimos que lhe permitiram crescer 17 vezes, passando a operar em mais de 20 países e mantendo só nos Estados Unidos cerca de 56 fábricas.
Segundo o colunista Reinaldo Azevedo, “todos sabem que os irmãos Joesley e Wesley Batista eram íntimos e grandes beneficiários do regime petista” (“Folha”, 19/5/17). Curiosamente, a dupla Batista encontra-se nos Estados Unidos, para onde se transferiu em companhia de seus familiares antes que a gravação feita por Joesley viesse à tona.
Adotando o mesmo expediente da Odebrecht, emitiram nota pedindo desculpas aos brasileiros pelo “estrago” que fizeram numa fase em que a economia parecia tomar fôlego, com a criação de oportunidades aos esperançosos 14 milhões de desempregados.
Os denunciantes de Temer teriam propiciado ao país uma contribuição que, certamente, poderia render-lhes vantagens ainda maiores no governo vindouro.
A sindicância determinada pelo ministro Fachin deve ter como ponto de partida os negócios da JBS e de seus dirigentes junto ao BNDES. Hão de ser apuradas as vantagens ilícitas que obtiveram nos mandatos anteriores. Vamos aguardar.
(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do iamg