Aristóteles Drummond*
Observadores estrangeiros que lidam com o Brasil, e gostam, costumam lamentar a falta de percepção dos brasileiros da elite empresarial, política e até mesmo cultural da real posição do país no contexto mundial.
Realmente nos orgulhamos do tamanho de nossa economia, entre a 11ª e 13ª do mundo, sem considerar que temos 220 milhões de habitantes e oito milhões e meio de quilômetros quadrados. Temos uma renda per capita baixa, e produtividade de má qualidade na infraestrutura nos transportes e nos portos.
Colecionamos a liderança de produtos primários, uma agricultura grande, mas com pouco valor agregado e mineração com baixo beneficiamento. Perdemos feio na comparação com outros países, como Austrália, Nova Zelândia e, em breve, a Argentina. Nossas empresas, especialmente no comércio, têm grande dimensão e somos relevantes nos resultados das multinacionais. Mas é claro que nosso mercado consumidor, por ser maior, é mais lucrativo do que economias notáveis, como Suíça, Luxemburgo, Holanda e outros, mas de população muito menor.
Nossa indústria, defasada em tecnologia, sofre pelo fechamento da economia. Impostos altos e muito judicializados, legislação trabalhista inibidora do emprego, mão de obra despreparada... Tudo conspira para nos manter nesta situação, no mínimo, vexatória e que favorece a má distribuição da renda.
Quem paga esta conta é o povo mais sofrido, pois existe uma elite no funcionalismo público e nas estatais privilegiada, lucros em setores produtivos favorecidos pela economia burocratizada. E um setor privado com alto endividamento e economia com juros entre os três maiores do mundo, pela baixa poupança interna.
Contas públicas mal geridas, carga fiscal também entre as maiores do mundo e ausência de investimentos públicos ou privados tornam impossível o otimismo com os números. Não basta crescer. É preciso melhorar a qualidade de vida do povo e remunerar melhor.
E ainda se quer diminuir a carga horária dos trabalhadores, quando primeiro temos de melhorar o padrão de vida dos trabalhadores pela via da produtividade pelo bom ensino.
Crescer é liberar a economia e o emprego. Precisamos dar um basta em tantas leis e impostos altos. A questão é política.
*Jornalista