Engravidar ou não engravidar: quando a ciência trabalha a favor dos sonhos e da livre escolha

Publicado em 28/12/2022 às 06:00.

Márcia Mendonça Carneiro*

Ter um filho se e quando desejado é um componente fundamental na vida de muitas pessoas. Os direitos dos indivíduos de constituir uma família e decidir livre e responsavelmente o número, o espaçamento e o tempo de seus filhos, e de ter as informações e os meios para fazê-lo, constam em documentos internacionais de direitos humanos desde 1948. Todos os anos, celebramos a conscientização sobre infertilidade, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como ausência de gestação após 12 meses de atividade sexual sem o uso de métodos contraceptivos.

Os avanços científicos como a fertilização in vitro (FIV), popularmente conhecida como bebê de proveta, tornaram possível a realização do sonho de construir uma família para milhões ao redor do mundo e os números revelam o nascimento de mais de 8 milhões de bebês até o momento. Os estudos disponíveis revelam que a infertilidade afeta um em cada seis casais, e infelizmente, muitos não têm acesso aos tratamentos adequados. Além disso, crenças e a divulgação de informações equivocadas atrasam o diagnóstico e a realização do tratamento adequado.

Como o relógio biológico feminino obedece a mecanismos complexos e ainda pouco conhecidos, o adiamento da gravidez pode ser extremamente deletério. Há uma queda significativa da capacidade reprodutiva feminina a partir dos 35 aos de idade e não há como interromper nem reverter tal fenômeno. Por isso, é imprescindível não adiar indefinidamente a escolha.

A possibilidade de controlar seu ciclo reprodutivo e escolher ou não a maternidade, o número de filhos e quando tê-los proporcionou às mulheres novas perspectivas. O adiamento da maternidade para idades cada vez mais avançadas é um fenômeno mundial, refletindo várias mudanças sociais e econômicas registradas recentemente. A percepção das mulheres em relação à maternidade também vem mudando e uma pesquisa recente revelou que no Brasil até 37% das mulheres jovens ainda não se decidiram sobre a maternidade.

O desenvolvimento de técnicas como o congelamento de óvulos deu às mulheres o poder de escolher adiar a decisão da maternidade, aliviando a pressão do relógio biológico. Idealmente, o congelamento de óvulos deve ser feito até os 35 anos de idade em vista da queda natural da quantidade e qualidade dos óvulos a partir dessa idade. Outra vantagem é que se a mulher decidir não usar os óvulos ou engravidar-se espontaneamente, estes podem ser descartados.

É preciso ainda considerar que os riscos gestacionais aumentam à medida que a idade materna avança, e consequentemente, a gravidez não pode ser adiada indefinidamente. Assim como planejam sua educação e suas carreiras, as mulheres precisam aprender a cuidar da sua saúde reprodutiva e, caso queiram, podem planejar a maternidade recorrendo a técnicas como o congelamento de óvulos.

* Ginecologista do Biocor Instituto/Rede D’Or, professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – Faculdade de Medicina da UFMG

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por