Estamos em uma boa fase

Publicado em 31/05/2025 às 06:00.

Pedro H. Jasmim*


Existe algo invisível que molda tudo que a gente faz, pensa, consome, posta, veste e até torce: o espírito do tempo. Os alemães chamam de zeitgeist. Aqui no Brasil, a gente chama de boa fase. Quer boa notícia? Depois de um longo período, ela voltou.

Sim. O Brasil voltou a vencer. Tamo em uma fase boa. E não falo só de medalha, prêmio ou pódio. Falo de vencer no simbólico. No que nos faz sentir parte de algo maior. No que ativa um modo coletivo que só a gente sabe viver — com festa, multidão e orgulho.
Durante muito tempo, a gente foi isso. Um país que ganhava no futebol, na fórmula 1, brilhava nas pistas, dava show nos palcos e ainda exportava avião.

O símbolo nacional era a vitória. Era Pelé, Senna, Ronaldo, Marta, Xuxa, Embraer, Petrobras. Era como se a gente tivesse nascido com estrela na testa, gingado no sangue e um passaporte carimbado no pódio do orgulho.

E o mais curioso: vencer compensava o resto. Sempre compensou. Compensava a desigualdade, a corrupção, o caos institucional. Nada disso sumia, claro mas era anestesiado pela força da vitória.
Se a seleção tava ganhando, se a novela era sucesso lá fora, se algum brasileiro surgia com um troféu na mão, a gente respirava fundo e pensava: ser brasileiro é isso, muito foda.

Vencer, pra gente, sempre foi anestesia e euforia ao mesmo tempo. Era política de pão e circo, talvez sim mas com caipirinha. Do nosso jeito, podíamos até não ter tudo mas tínhamos clima de Copa do Mundo. 

Mas aí chegou 2012. Foram tempos estranhos. O Brasil parou de ganhar, deixou de brilhar, foi um hiato onde deixamos de nos reconhecer. Foi o 7x1, os vinte centavos, os escândalos, os impeachments, a polarização, a pandemia, crise econômica. 

A autoestima coletiva sofreu o impacto, afinal sempre fomos bons em vencer e não em competir. Não dava para suportar a sensação que o mundo olhava pra gente com pena. Nesse período, mais brasileiros passaram a buscar “como sair do país” no Google do que “como empreender”.

Entre 2014 e 2021, o número de brasileiros morando fora cresceu mais de 35%, de 3,1 milhões para 4,4 milhões em 2022. A confiança na democracia despencou. 

Mas aí, discretamente, algo começou a mudar. Veio Rebeca, com samba no solo e ouro no peito nas Olimpíadas de Paris. Anitta no topo do Spotify global com 7,3 milhões de plays no Spotify Global com Envolver. Nanda Torres com sua indicação ao Oscar 2 milhões de curtidas no perfil do Instagram da premiação. Vieram muitos: Raissa, Vini, Pabllo, Wagner. De repente, clima de Copa. Oscar, Globo de Ouro, Grammy Latino. Madonna em Copacabana. Mais de um milhão de pessoas na praia, vibrando juntas, Lady Gaga com 2,1 milhões, impacto de R$ 600 milhões na economia da cidade do Rio. E ninguém mais pedindo desculpa por ser brasileiro. É o BrazilCore. O mundo e inclusive a moda internacional voltou a olhar pra gente, e dessa vez com brilho nos olhos. 

É uma boa fase. A gente voltou a vencer. E, talvez o mais importante: voltou a se ver. Voltou a se gostar.

Porque aqui, quando um vence, ninguém vence sozinho. A vitória de um ecoa em milhões. A gente comemora na rua, no grupo da família, nas redes, em todos os lugares. E isso muda tudo. Muda o humor, muda o consumo, muda a política, muda o futuro.

Quando o Brasil entra em fase boa, o país inteiro se recalibra, viramos potência. Nós somos potência. 

Viva a nossa boa fase. 

* Professor da PUC-Rio e cool hunter

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