Leão XIV e os desafios morais da modernidade

Publicado em 09/05/2025 às 10:24.Atualizado em 09/05/2025 às 10:25.

Por Leônidas Oliveira* 

O novo Papa, Leão XIV, surpreendeu o mundo pela origem americana, a trajetória pastoral no Peru indígena e a escolha simbólica do nome. Sua primeira homilia, em latim, proclamou: “Pax cordibus et gentibus” – paz aos corações e aos povos. Foi mais que saudação: um gesto litúrgico e geopolítico. Em meio a guerras bélicas, digitais e econômicas, clamar pela paz é ato de fé e de estratégia.

Na manhã seguinte à sua eleição, na Capela Sistina, Leão XIV reforçou o tom pastoral: “O Senhor me chamou para carregar essa cruz e realizar essa missão, e sei que posso contar com cada um de vocês para caminhar comigo [...] como uma comunidade de amigos de Jesus”. A ideia de “comunidade” é chave: não há pontificado solitário. Ele se apresenta como parte de um corpo — a Igreja — chamada a ser fiel à Boa Nova.

Sua fala toca corações, mas não responde de forma explícita aos dilemas da modernidade. Como a Igreja lidará com temas como homossexualidade, aborto, identidade de gênero e novas formas de família? Francisco respondeu com gestos e silêncio. Leão XIV, ao que tudo indica, segue o mesmo caminho: acolher antes de julgar, escutar antes de definir.

O teólogo Ratzinger escreveu que “a verdade não se impõe senão pela força da própria verdade”. E a verdade do Evangelho, para Leão XIV, parece ser a do amor. “Todos são todos”, disse a cardeais, em sinal de continuidade com Francisco. Mas num mundo em que os símbolos já não bastam, talvez seja necessário ir além do gesto.

A arte, a fé e a cultura ensinam que a clareza também é caridade. O novo Papa entende o tempo em que vive. Falta saber se os que o cercam permitirão que sua mensagem de inclusão seja também transformação.

Em declarações anteriores à eleição, Robert Francis Prevost, então prefeito do Dicastério para os Bispos e agora Leão XIV, afirmou que ainda havia 'muito a fazer' na transformação da Igreja. 'Não podemos parar, não podemos retroceder', disse ele, ressaltando que a missão permanece a mesma, mas a forma de alcançar os fiéis precisa se renovar. ‘A mensagem é sempre a mesma: proclamar Jesus Cristo, proclamar o Evangelho, mas a maneira de alcançar as pessoas de hoje [...] é diferente’, afirmou. Ainda que tais palavras pareçam apontar para um pontificado de continuidade reformista, o tom adotado nos primeiros gestos e homilias indica que a postura de Francisco — de escuta, acolhida e abertura pastoral — tende a ser mantida.

*Doutor em Teoria da Arte e Arquitetura. Arquiteto, restaurador e Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais
 

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