Memórias de um mineiro brasiliense

Publicado em 11/06/2024 às 06:00.

Aristóteles Drummond*

O mais recente livro de Pedro Rogério Moreira, “A vida misteriosa dos gatos”, consolida o mineiro-brasiliense como uma referência no mundo memorialista contemporâneo. Um passeio diário na orla do lago na Península dos Ministros nada mais é do que testemunho correto de personalidades e fatos de nossa história recente.

Pedro Rogério, jornalista que ganhou dimensão nacional nos anos em que foi a cara do jornalismo da Globo na capital federal e nas esferas do poder, tem as letras em seu DNA. O pai, Vivaldi Moreira, foi o consolidador da Academia Mineira, dono de invejável texto e gostosa conversa, e os tios Pedro Paulo e Edison, editores e livreiros. Guardo as melhores recordações de Edison, amizade que herdei de meu avô Augusto de Lima Júnior. Chegando a BH, eu deixava a mala no Del Rey e corria para a Itatiaia, na rua da Bahia, onde ficava horas sentado com Edison, ouvindo histórias e conversas dele com os intelectuais que ali batiam ponto todos os dias.

Com texto coloquial, a beleza da simplicidade e da naturalidade, o testemunho da história exerce a mineiridade do berço sem as afetações comuns aos coadjuvantes de fatos e contemplados com a estima de notáveis de seu tempo.

Enfatiza as qualidades de dois presidentes nem sempre bem compreendidos, mas realmente merecedores do respeito e da admiração pelos serviços prestados ao Brasil.

José Sarney, sua devoção maior, foi efetivamente a mais rica figura humana no cargo depois de JK. Governou com sabedoria, tolerância e paciência. E deu ao país bons resultados na gestão, apesar do assédio de políticos endeusados na época, hoje no merecido esquecimento, que tentavam inaugurar o toma lá, dá cá de nossos dias. Devemos a Sarney a montagem da abertura como influente líder partidário no mandato de João Figueiredo e sua consolidação em seu governo. Ouviu dele ou testemunhou ao seu lado fatos revelados no livro de importância histórica.

João Figueiredo foi outro retratado com correção e respeito. Reuniu uma boa equipe a que não faltaram seis mineiros ilustres. Figueiredo tem sido esquecido, mas por ter pedido. Não gostava de política e dos políticos, apesar de os ter devolvido ao comando do país. Não foi feliz ao não passar a faixa presidencial.

José Aparecido de Oliveira, Roberto Marinho, Murilo Badaró, Afrânio Nabuco, Gilberto Amaral e Itamar Franco também estão entre os citados no livro com preciosas lembranças.

As caminhadas devem ter continuado e, portanto, nada mais natural que tenhamos outras obras nesta linha. Gabriel Kwak e José Mário Pereira, um na orelha e outro na contracapa do livro, podem exigir um outro para breve. E o que todos devemos aspirar após a leitura destas deliciosas histórias. Paulo Pinheiro Chagas, Joaquim de Salles, Pedro Nava já tem um sucessor. 

*Jornalista

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