Zé Silva (*)
Com o atual quadro de crise econômica, agravada pelas condições difíceis em que ainda se encontra o ambiente político, todos os setores sociais e suas áreas econômicas são fortemente afetados. Com efeito, a situação gera dúvidas sobre o futuro e sobre a própria capacidade de fazer uma travessia para dias melhores com equilíbrio e sustentabilidade.
Nesse processo, certamente farão uma travessia melhor, até a retomada de um novo ciclo de desenvolvimento, os setores de maior organização e estruturas de mobilização e trabalho. Organização e estruturas que favoreçam a implementação de projetos de caráter mais coletivos e em parcerias, possibilitando resultados melhores e mais eficazes nesse momento de recursos escassos.
Pois essa força de organização e estruturas se encontram no agronegócio brasileiro, em quaisquer de suas dimensões. A economia agrícola brasileira, englobando todas essas dimensões, da produção em larga escala até a agricultura familiar, corresponde a cerca de 3% do PIB nacional e gera em torno de 37% dos empregos no Brasil. Essa economia tem o primeiro lugar na produção mundial de açúcar, café e suco de laranja, e o segundo lugar na produção de soja e carne bovina.
Nosso país possui 353,6 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e passíveis de alta produtividade, dos quais 90 milhões de hectares ainda não são explorados. O Brasil responde ainda por 44% de toda a carne de frango comercializada no mundo. Em soja em grão, a participação nos negócios internacionais é de 31%. Em carne bovina, 28%. É o maior exportador mundial de açúcar, café, suco de laranja, carne bovina, tabaco, cana-de-açúcar e carne de frango.
Tratando especificamente da agricultura de perfil familiar, temos uma estrutura que começa e se renova com a criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), uma demanda do setor que vem de longas lutas e desde há algum tempo. A atuação da Anater significa mais racionalidade, eficiência e eficácia na aplicação de recursos para fortalecimento de uma das bases do desenvolvimento rural sustentável, que são os serviços de assistência técnica e extensão rural para a agricultura familiar.
Para organizar seus processos de demandas, conquistas e assegurar políticas públicas essenciais à sua sustentabilidade, o setor tem ainda em suas estruturas 27 Federações de trabalhadores e agricultores familiares, mais de 4 mil sindicatos desses segmentos, 27 entidades estaduais de assistência técnica (Emateres), presentes em mais de 5.300 municípios do país, um Conselho Nacional e 27 Conselhos Estaduais de Desenvolvimento Rural Sustentável, uma Secretaria de Desenvolvimento Agrário (ex-Ministério do Desenvolvimento Agrário) e suas 27 Delegacias estaduais, que implementam e coordenam mais de 20 programas geradores de renda e ocupações, projetos de crédito rural e de fomento para os cerca de 5 milhões de agricultores familiares brasileiros.
Com esses níveis de estrutura e organização, mais a força de suas parcerias e seu grande potencial para projetos geradores de renda e trabalho, a agricultura familiar é um setor da economia brasileira que, com certeza, saberá fazer sua travessia com mais segurança e sustentabilidade.
(*) Zé Silva é agrônomo, extensionista rural, deputado federal pelo Solidariedade/MG